Minha escola é uma casa
Há algum tempo, em conversa/entrevista com Mainha, onde ela me relatava como aprendeu a ler, lá pelos idos de 1940, em um lugar onde só se chegava a pé ou a cavalo, ouvi uma declaração que me deixou muito encantada:
- A minha primeira escola foi uma casa.
Definição perfeita, mas que revela duas nuances bem interessantes. A primeira é que a frase, literalmente falando, revela a ausência do estado em prover os seus do mais básico e essencial que é ensinar a ler e a fazer conta. Fazer conta inclusive era o desejo do meu avô que persistia na busca de um professor para a filha. Essa história fica para um outro momento.
A segunda nuance é que, se fosse no sentido figurado, não seria a coisa mais linda de se ouvir? Como professora, ficaria extasiada se algum aluno me confessasse algo semelhante. Só que teria que ser dito espontaneamente, longe da reprodução mecânica de frases feitas que não encontram materialidade na realidade escolar.
Enquanto espero, a vida acontece, porém, antes de apresentar novos acontecimentos, preciso contextualizar.
Por questões de sanidade física, uma vez que fibromialgia não é apenas dor, mudei de local de trabalho. Os 5,2km que me levavam até a Escola Estadual Mário David Andreazza ficaram para trás. Porém pontuo que trouxe comigo os bons amigos e nossas risadas. Agora, os cajueiros e mangueiras que a deixavam frondosa serão apenas saborosíssima lembrança.
O novo local de labuta fica, como dizem, na biqueira de casa. São somente 350m. Na verdade, foi um retorno. Já havia trabalhado no São Vicente de Paula e, apesar do prédio precisar de reforma, um fato reforçou que ali é o meu lugar, voltei para casa.
“Sala de estar” da EESVP

Embora seja evidente a necessidade de reforma, como mencionei, salta aos olhos as cadeiras, a mesa de centro e seu jarro de flores, o banco com o encosto preso na parede e os quadros pintados pelos próprios alunos. Tudo desperta a sensação de pertencimento aquele lugar. Sei que inconscientemente os alunos dizem para si mesmos:
- Aqui é minha casa, posso me sentar, esperar meus amigos, conversar, rir...
Ainda estou aqui procurando as palavras para dar sequência a esse texto, as fotografias dizem muito mais que meu palavreado curto. Creio que o melhor é parafrasear Mainha, afinal, na maioria das vezes, mãe tem sempre razão:
- Minha escola é uma casa.
Essa percepção e transformação de ambiente saiu da mente da profissional que é o coração da escola: a orientadora. Sei disso porque, durante um ano, desempenhei essa função. O Serviço de Orientação Educacional – SOE é o lugar onde todas as fomes são evidenciadas, afloradas ou percebidas.
Através do seu gesto, a orientadora Mariléia disse aos alunos (e funcionários) que a escola é uma casa. Para muitos, a primeira e única. Ao ressignificar um espaço vazio, ela o transformou em um signo de beleza, amor, carinho e cuidado.