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Um dia de Índio


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 15/04/2024
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Saudações! Existe uma música mais antiga, cantada pela Baby do Brasil, que possui o seguinte refrão: “Todo o dia! Era dia de Índio!” Pois bem! Tivemos recentemente um grande dia de índio, com a eleição de Aílton Krenak, para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras(ABL). Destaco, que não trago este tema, devido ao fato de Krenak, ter se tornado como dizem, um imortal. O meu foco de reflexão e debate com vocês, nesta nova exposição de ideias, passa pelo impacto causado pela ocorrência de “Um Dia de Índio”, que de certa forma expôs mesclas de preconceitos, conceitos, opiniões, reclamações e etc.; ou seja, o dia de índio de Krenak, levou a debates, embates e até conflitos, que se fizeram muito presentes através dos meios de comunicação virtuais, escritos e televisivos.

Muitas pessoas, expressaram “orgulho”, pela presença de Krenak, um índio, ocupando um espaço predominantemente branco. Outros, se colocaram enquanto “envergonhados” e “indignados”, criticando este acontecimento. Inconformados com o quanto atingimos um grau tão “baixo”, “medíocre” e “tosco”, a ponto de um índio, se tornar imortal das letras. Penso que tais posições tão antagônicas, só ilustram a persistência de estereótipos sobre sujeitos, que ao abandonarem o seu espaço de marginalização, exclusão e subalternização, de certo modo sublevam a estrutura hierárquica social, construída ao longo de toda uma tradição sócio histórica em nosso país.

Ressalte-se o fato de que Krenak, já se consolidava fora dos padrões de inferiorização e marginalização, ao se tornar um intelectual de grande porte, mantendo muito de sua origem e raiz cultural, tecendo reflexões referentes à questões próprias da cosmovisão de mundo, presente em um “filosofia ameríndia e natural”, fugindo do eurocentrismo, ainda dominante em nosso meio acadêmico. Assim, o dia de índio de Krenak, começou bem antes de vestir o manto dos imortais, mas que encontrava-se ofuscado pelo não aparecimento em público geral, restrito na sua condição de ser pensante e ser índio ao mesmo tempo, limitando-se à leitura de seus livros.

Reflitamos então, que a partir do momento, quando o dia de índio de Krenak, tornou-se visível, a maioria do público expressou um incômodo, tanto de identidade quanto de colocação social, étnica, intelectual e até moral, que pode ser apresentado na formulação da seguinte questão: “O que faz um índio na ABL?” Penso que mais incômodos como estes, são extremamente necessários para conseguirmos expor abertamente, as nossas divergências e os nossos antagonismos, referentes às temáticas envolvendo a discriminação de cor, raça, origem e posição social.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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