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Saltburn


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 11/01/2024
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Eu iniciei a última coluna do ano passado comentando sobre os indicados do Globo de Ouro; nada mais justo do que começar a primeira desse ano tratando sobre o mesmo tema. No domingo, 7 de janeiro, o Globo de Ouro premiou as principais produções do cinema, TV e streaming lançadas ao longo do ano passado. Como mencionado anteriormente, havia uma expectativa de surpresas ou mudanças, dado o aumento no número de votantes. No entanto, o que se mostrou foi o clássico "mais do mesmo". O filme Oppenheimer foi o grande vencedor da noite, enquanto o avassalador sucesso de Barbie não foi suficiente para evitar uma tremenda esnobada.

Barbie, que liderou as indicações com nove, uma a mais que Oppenheimer, levou apenas nas categorias de melhor música e maior realização cinematográfica, como reconhecimento em bilheteria. Como termômetro para o Oscar, o Globo de Ouro indica que teremos mais uma cerimônia, no mínimo, previsível. Isso ocorre mesmo diante da inovação que Barbie representou para o mundo do cinema. A qualidade inegável de Oppenheimer destaca-se, apontando para uma possível repetição do reconhecimento nos próximos eventos.

Agora, vamos ao filme da vez! Atrevo-me a iniciar a coluna neste novo ano comentando sobre um filme que estreou diretamente no streaming e que já está disponível desde antes do Natal. Saltburn

, dirigido pela talentosa Emerald Fennell, tomou de assalto as redes sociais no final de 2023 e início de 2024, permanecendo no centro das atenções até o momento. Uma produção que supera as expectativas, Saltburn não se encaixa no molde do filme convencional para a família tradicional brasileira, mas, por razões óbvias, atende aos desejos intrigantes da maioria dos cidadãos de bem (sim, estou sendo irônico). É sobre essa obra que trata a Coluna Sétima Arte desta semana.

Desde o princípio, a narrativa de Saltburn insinua desgraças iminentes e um romance homoerótico, mas o espectador é surpreendido com uma trama que entrega mais desgraça do que romance, desafiando a noção de que uma obsessão doentia pode ser interpretada como paixão legítima.

Com uma abordagem nitidamente social, o filme expõe primordialmente o anseio da classe média de ascender a qualquer custo aos estratos mais elevados da riqueza, divergindo consideravelmente da expectativa inicial do espectador, que é conduzido a crer numa narrativa centrada na jornada de amadurecimento. Nesse contexto, o filme pode ser interpretado como uma sátira, entretanto, sua evolução transita de forma inequívoca em direção ao drama.

A trama, ambientada nos ensolarados anos 2000, proporciona uma estética envolvente que mescla de maneira sutil elementos góticos e barrocos nada convencionais para esse tipo de arte, transportando o público para uma era que se desvaneceu ao longo do tempo. A diretora mantém o ritmo durante as duas horas, equilibrando diálogos magistrais com cenas de sexo bizarro, não explícitas, mas sugestivas. A ambiguidade é a chave, insinuando o que está acontecendo e deixando o cérebro do espectador preencher as lacunas.

A obra se destaca não apenas pela polêmica cena da banheira, que incitou debates acalorados nas redes sociais, mas por uma variedade de elementos, incluindo fotografia, excentricidade, diálogos truncados e uma forma de atuar peculiar do elenco.

Quanto ao elenco, Barry Keoghan brilha como o protagonista psicopata, construindo um personagem que desperta empatia e repulsa simultaneamente. Dessa forma, ele deixa claro que está construindo uma carreira sólida na indústria cinematográfica, já que recentemente esteve sob os holofotes em Os Banshees de Inisherin e agora, menos de um ano depois, volta a ocupar lugar de destaque devido à sua atuação em Saltburn. Jacob Elordi, conhecido por seu trabalho na premiada série Euphoria, da HBO, traz nuances complexas a um playboy bonzinho, incapaz que perceber os inúmeros defeitos que possui. Além deles, Rosamund Pike rouba a cena com uma personagem excêntrica e completamente descolada da realidade.

O filme mantém de maneira envolvente o seu tom satírico, oferecendo uma crítica perspicaz à desconexão da classe alta com a realidade, imersa em um universo de fachadas e à mercê daqueles que se revelam seus predadores. Contudo, a reviravolta abrupta, que conduz a trama de uma sátira para uma queda vertiginosa em direção ao drama, é o ponto em que o roteiro titubeia. A falta de aprofundamento nas relações e o desfecho apressado deixam lacunas que poderiam ter sido mais habilmente exploradas.

A trama apresenta a história de Oliver Quick, um rapaz introspectivo aparentemente de origem humilde, que inicia seus estudos como bolsista na Universidade de Oxford. No ambiente acadêmico, ele estabelece uma improvável amizade com Felix Catton, um jovem milionário que se compadece não apenas da situação financeira de Oliver, mas também do passado de sua família marcado pela destruição causada pelo vício e por problemas mentais. Tudo se transforma quando, durante as férias de verão, Felix decide levar seu novo amigo para o castelo da família em Saltburn. Os excessos e excentricidades desse local revelarão as máscaras, desencadeando uma série de eventos aterradores.

Apesar das falhas, Saltburn apresenta cenas memoráveis e uma atmosfera densa de obsessão e luxúria, orientando as decisões dos personagens. A trilha sonora incrível composta por sucessos dos anos 2000 contribui para tornar a experiência cinematográfica cativante, polêmica e marcante.

Por que ver esse filme? Saltburn é uma obra intrigante que, mesmo com seus tropeços, merece ser vista na mesma proporção da atenção que recebeu nas redes sociais. Uma experiência cinematográfica que pode agradar a muitos, mas definitivamente não é destinada a ser compartilhada com a família. Minha recomendação é para que você priorize uma sessão a sós, longe dos olhares indiscretos, o que é amplamente facilitado pelo fato do filme estar disponível no streaming Prime Video da Amazon. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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