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Sétima Arte - Dumbo


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 29/03/2019
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Quase oitenta anos após o lançamento da animação Dumbo, a todo-poderosa Disney traz de volta uma de suas histórias mais tocantes, mas dessa vez em forma de live-action. Esperado ansiosamente por crianças e adultos a história do elefantinho voador chegou aos cinemas ontem e você fica muito bem informado sobre esse filme aqui, na Coluna Sétima Arte.

O ano era 1941 e o mundo vivia um outro momento, muito mais incerto e amedrontador diante dos perigos crescentes e do ódio ao diferente que alancava uma nação contra outra. Diante desse contexto, contar um conto moderno que envolvesse superação diante das adversidades era mais do que um oportunismo, era uma necessidade. Bem por isso, Walt Disney investiu em levar para o cinema uma animação que narrasse a história do livro de Helen Aberson e Harold Pearl, que contava a absurda história de um elefante voador. Uma decisão acertada, já que em tempos difíceis sonhar ajuda a viver.

O Dumbo da década de 1940 passou por momentos difíceis em sua produção, enfrentou uma greve de roteiristas e corte no orçamento devido a Segunda Guerra Mundial, mas sobreviveu, mesmo sendo a animação mais curta da Disney – com apenas 64 minutos de duração – e se tornou um sucesso, preenchendo a imaginação de inúmeras crianças e até mesmo adultos sobre a fantástica forma de superar os defeitos tornando-os alavanca para o sucesso.

Hoje, setenta e oito anos depois, Dumbo ainda tem muito o que falar para o mundo, bem por isso, seu remake em live-action foi tão aguardado. O ambicioso projeto que faz parte de uma ação maior da Disney, de trazer para a realidade seus sucessos animados, ficou a cargo do famoso diretor Tim Burton, um nome que, mesmo após uma década de filmes fracos, ainda é sinônimo de originalidade e ousadia. 

Tim Burton não desperdiçou sua oportunidade e fez desse filme o seu melhor filme em anos. Seu tom sombrio, seu humor excêntrico e seu gosto exagerado pelo extraordinário, extravagante e enigmático fazem dele a pessoa certa para dirigir esse filme. Ele não caminha pelo óbvio e não faz um remake fiel. Pelo contrário, adapta a história para uma realidade mais plausível, tira de cena os animais falantes e os números musicais e dá espaço para as agruras da vida vividas por uma família em pedaços tentando se reconstruir e uma visão visceral da ambição capitalista que explora e escraviza tudo o que vê. 

Burton usa toda a sua criatividade para criar um clima fantástico, cenas muito bem construídas e emolduradas, um CGI que engana nossos olhos fazendo-nos acreditar que tudo aquilo é real e, mais que isso, que os sentimentos e as emoções do próprio elefante são como os dos humanos. Diante disso, não há quem não se emocione. 

Tim Burton é tão profissional que, com seu brilhantismo, ele consegue até mesmo superar os defeitos primários cometidos pelo roteirista Ehren Krueger, é obvio que é mérito de Krueger a adaptação bem feita da história para o cinema, mas também é dele a responsabilidade por diálogos ruins e personagens rasos, algo que, aparentemente, tem se tornado uma característica desse roteirista, já que alguns de seus filmes anteriores sofrem do mesmo problema, como por exemplo Transformers: O Lado Oculto da Lua.

O elenco é um bom termômetro para essa análise do roteiro, a família, formada por Colin Farrel, Nico Parker e Finley Hobbins, que estão no centro do filme junto com Dumbo, cumprem bem o seu papel, mas não convence, não emociona e não torna real os dramas particulares que cada um vive. Em contrapartida os vilões, bem construídos, são muito mais reais, interessantes e convincentes. Tanto o trambiqueiro e caricato Max Medici, de Danny DeVito, como a maldade encarnada pelo Vandevere, de Michael Keaton, fazem com que a experiência de ir ao cinema, nesse caso, seja muito mais prazerosa. Além deles, destaque deve ser dado a Eva Green, a nova musa de Tim Burton, que sempre faz de suas aparições um deleite a parte.

Outro aspecto que não pode ser deixado de lado nesse filme é sua crítica à sociedade estabelecida. O remake de Burton aproveita em sua primeira parte a história original e, no restante do tempo, conta uma história muito mais conectada aos dias atuais. Em tempos de individualismo, indiferença e às vezes até de racismo, mostrar que a deficiência de Dumbo, com suas orelhas desproporcionais gera escarnio, bullying e maus tratos, nos faz pensar na forma como encaramos e olhamos o diferente. Ao fazer com que sua deficiência se torne algo em seu favor, o filme traz uma forte mensagem motivacional. Mas logo que isso acontece entra em cena o oportunismo capitalista que escraviza e explora tudo o que toca, seja ele na figura do decante Medici ou do ascendente Vandevere, que aqui, pasmem, encarna uma velada referência ao próprio Walt Disney fundador do estúdio que detém os direitos da história e que produz o filme. Vai ser impossível pra você ver a macabra Dreamland (Terra dos Sonhos) e não associar aos parques temáticos da Disney. Com eles o filme escancara de forma ácida a ganância humana que arrebata e tenta destruir a beleza da fantasia.

Vamos à trama! Tudo se passa logo após a Primeira Guerra Mundial, em 1919, nos Estados Unidos. Holt Farrier é uma ex-estrela de circo que, ao retornar da guerra, encontra seu mundo virado de cabeça para baixo. Além de perder um braço no front, sua esposa faleceu enquanto estava fora e ele agora precisa criar os dois filhos. Soma-se a isso o fato de ter perdido seu antigo posto no circo, sendo agora o encarregado em cuidar de uma elefanta que está prestes a parir. Quando o bebê nasce, todos ficam surpresos com o tamanho de suas orelhas, o que faz com que de início seja desprezado. Cabe então aos filhos de Holt a tarefa de cuidar do pequenino, até que eles descobrem que as imensas orelhas permitem que Dumbo voe.

Por que ver esse filme? Porque é um clássico, porque faz parte da infância de gerações e porque agora, em sua nova versão a trama se torna capaz de dialogar tanto com crianças quanto com adultos, apresentando uma temática mais profunda mas igualmente tocante. Além disso, esse é o melhor filme do aclamado diretor Tim Burton nos últimos tempos. Só isso já vale o ingresso. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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