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Sétima Arte


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 24/04/2020
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A pandemia do Covid-19 continua tirando as pessoas de sua normalidade e por mais que alguns setores já estejam, com ressalvas, de volta à ativa, muita gente ainda continua em Home Office ou com as crianças em casa, já que as escolas ainda estão em período de reclusão social. Diante dessa realidade, os cinemas não funcionam e estar ligado nos streaming tem se tornado algo cada vez mais comum. Dessa forma, um filme turco ganhou notoriedade recentemente nas redes sociais, principalmente por poder ser facilmente acessado via Netflix. A Coluna Sétima Arte comenta essa semana sobre Milagre na Cela 7 e mais, também dá uma breve pincelada sobre uma obra realmente marcante, Jojo Rabbit que acaba de ficar disponível na modalidade on demand (se você nunca ouviu falar sobre isso, continue lendo para descobrir o que é).

Milagre na Cela 7 é uma produção turca da Netflix que, por sua vez, não é totalmente original, ela é o remake de um filme coreano de 2013, além disso, tem uma profunda semelhança com o drama clássico À Espera de Um Milagre, escrito por ninguém menos do que o mestre do terror Stephen King. Dito isso, pode-se dizer que o filme atinge muito bem o seu objetivo de ser um dramalhão de primeira, mas isso não quer dizer que ele tenha a qualidade dos grandes dramas reconhecidos e premiados pelo cinema.

Se você for um expectador casual desse tipo de gênero, o Drama, vai achar o filme excelente, vai se emocionar e chorar com certeza. Agora, caso você seja um pouco mais crítico, irá perceber que tanto a trama quanto a direção pecam em vários momentos, entregando um emaranhado de clichês com um único e grande objetivo: fazer o público cair aos prantos.

Em outros momentos e com outros filmes eu já havia feito esse mesmo tipo de crítica, pois isso tem se tornado muito comum, infelizmente, nesse gênero tão nobre. Para que um filme de drama seja uma obra de peso, ele precisa dosar muito bem a dor, a angústia e a humanidade. É esse caminho de proximidade com a realidade que desperta a empatia do público e gera identificação com o protagonista, fazendo com que o público sinta a sua dor. O problema está quando a empatia acaba sendo subjugada por elementos que se destacam sobre ela, como o uso excessivo de uma trilha sonora constante e extremamente triste, o abuso em planos com câmera lenta, personagens desenvolvidos de forma superficial ou mesmo uma clara dicotomia entre bem e mal.

Infelizmente, todos esses clichês estão presentes em Milagre na Cela 7 e vão fazer com que você se emocione e chore sem se deixar impactar pela trama. Dessa forma, o diretor Mehmet Ada Öztekin, peca em vários aspectos, mas entrega o que se propôs a realizar. De qualquer forma, ele não é o único responsável por dar um estilo “água com açúcar” ao filme. O roteiro também é o outro grande responsável por isso. Ao tentar se distanciar sempre mais do original coreano, o roteiro muda alguns aspectos que trariam uma certa dúvida ao público sobre a pessoa do protagonista e ofereceria uma densidade maior à trama. No filme coreano o protagonista foi acusado de estuprar e matar a vítima, no filme em questão ele simplesmente estava no local, ou seja, você já sabe desde o começo que ele é inocente e perde a oportunidade de tomar partido, tornando-se um juiz particular da história apresentada, um desperdício.

Além disso, esse maniqueísmo velado empobrece e distancia o roteiro da vida real. Nele o protagonista e todos à sua volta, inclusive os detentos da cela 7, são pessoas boas, que querem sempre ajudar. Já a personificação do mal fica exclusivamente por conta do general, que carrega a dor da perda da filha e que deseja a todo custo a execução do personagem principal. Como eu disse, há quem goste desse tipo de história, que é quase infantil, mas que ela está muito distante do mundo real onde os dramas devem ser inseridos, ah isso está!

Vamos à premissa da trama! Separado de sua filha por ser acusado de um crime que não cometeu, um homem com deficiência intelectual precisa provar sua inocência ao ser preso pela morte da filha de um comandante. Ele passa a contar com a ajuda de seus companheiros de cela e de quem também está do outro lado das grades.

Por que ver esse filme? Primeiro porque ele é um fenômeno. Segundo, porque se você não é muito acostumado com dramas e gosta de um filme que não lhe desafie a pensar muito, esse é seu filme, pois, independente de qualquer questão técnica, ele é emocionante. É bom, mas é momentâneo. Merece ser visto pelo menos pela honestidade, ele se propõe a apresentar um drama e entrega isso de forma clara ao público.

Agora, se você quer algo um pouco mais desafiador, minha sugestão é o intrigante Jojo Rabbit, que acabou de estrear no on demand das principais operadoras de TV a cabo do país. Caso você não esteja acostumado com o termo on demand, eu já explico: é utilizado para algo feito sob demanda, ou seja, nesse caso, para atender o usuário na hora e com o conteúdo que ele escolher. Já faz um tempo que esse serviço está disponível no Brasil, por meio dele, pouco tempo depois de estrear no cinema muitos títulos ficam disponíveis nesse tipo de plataforma para serem comprados ou alugados. Funciona como antigo serviço de locadora em que você aluga um filme por determinado preço. A diferença é que hoje em dia, com o serviço on demand, a locadora está dentro de casa.

Sobre Jojo Rabbit. O nome parece estranho, mas o filme tem uma pegada muito divertida para tratar uma série de questões extremamente sérias, tais como: semitismo, xenofobia, autoritarismo, bullying e muito mais. Ao retratar um dos períodos mais sombrios da humanidade – a 2ª Guerra Mundial –, o diretor Taka Waititi utiliza como abordagem o olhar inocente de uma criança.

Bem por isso é possível perceber como a realidade, a partir desse olhar pouco crítico, acaba se tornando distorcida, tanto que a criança chega a construir seu amigo imaginário como sendo o próprio Hitler. Uma metáfora incrível e que obriga o expectador a pensar criticamente. Algo essencial para todas as idades, mas principalmente para os mais jovens, isso porque o filme permite uma análise particular sobre o olhar imaturo e pouco crítico, que constrói mitos e que acredita em tudo como verdade. 

Amadurecer, enfrentar as perdas e as cruezas da vida, entender que o mundo é mais complexo do que queremos ou podemos compreender, algo inerente à vida de todo e qualquer ser humano, mas que pode ser refletido de forma crítica por meio dessa história. Uma tragicomédia de peso e realmente imperdível. Vale cada centavo que custa para ser alugado. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


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