Pensar e agir em nossos tempos sombrios
Se o título desta nova exposição de pensar, soa um tanto pessimista, peço desculpas, mas penso que não se pode negar as sombras intensas recobrindo nossas sociedades, as relações humanas, a política de Estados-Nações e outras mostras das sombras. Sombras da Guerra, a Violência Política, as Democracias Fragilizadas, a Presença do Totalitarismo. Experimentamos em nossa atualidade guerras marcadas por sombras do passado na prática. Guerras Genocidas! Guerrear em nome de expansão territorial! Práticas contra opositores de regimes políticos fechados, sendo assassinados em prisões do Estado pseudodemocrático! Exploração social-econômica e exclusão dos indivíduos dos seus direitos e alienação de suas cidadanias, em sociedades como a nossa! Temos então de pensar e agir em nossos tempos sombrios.
Recentemente, vem à tona em uma discussão aberta entre o governo brasileiro e o israelense, a sombra da expressão máxima do Totalitarismo: O Nazismo. Foram feitas referências as práticas genocidas em massa que caracterizam este regime principalmente ao longo da II Guerra Mundial. Indubitavelmente, os genocídios são comuns nas guerras atuais, como podemos observar através de imagens midiáticas grotescas que mostram a guerra Israel\Hamas. Assim sendo, a comparação crítica formulada pelo governo de nosso pais, na figura de nosso atual presidente, comparando a política israelense com a prática nazista, faz de fato sentido
Para continuar nossa discussão nesta exposição, peço permissão e convido para nosso debate e reflexão, a filósofa Hannah Arendt! Para começar, Arendt é de origem judaica! Ela nasceu na Alemanha e se refugiou nos EUA onde viveu até sua morte, fugindo exatamente do Nazismo. Se colocava enquanto uma apátrida, mas se considerava uma cidadã do mundo. Arendt viveu a ascensão do Nazismo, os horrores da II Guerra e do genocídio aos judeus e outros grupos, além de apontar uma acontecimento inédito em nossa história humana: o surgimento do Totalitarismo que se configura enquanto um advento originário em nossa história, representando uma forma de crise de valores morais e políticos, promovendo a formação de governos sustentados sob a força e mera violência como instrumento de governar as massas.
Por este motivo, a noção de Totalitarismo não pertence ao passado. Se faz presente em nossos tempos sombrios, marcado pela sedução pela violência, convertendo poder em mera força. Experimentamos a descartabilidade dos homens e a destruição da humanidade, que não se faz apenas pela destruição física, mas também pela “produção” de apátridas, refugiados e indivíduos destituídos de qualquer forma de direitos. A própria Arendt se reconhecia como uma “pária consciente”.
E quanto ao Estado Israelense? Arendt alegava ser um erro, constituir um Estado judeu, sem levar em conta a história e a presença dos povos árabes na Palestina. A autora defendia a ideia da formação de um parlamento ou sistema federado, que englobasse judeus e árabes, sem a constituição de maiorias ou minorias. Crítica do Sionismo, Arendt já alertava que os conflitos entre árabes e judeus em sua época, apresentavam-se enquanto insolúveis e duradouros, caso a presença dos árabes não fosse considerada pelos judeus na formação do Estado de Israel. Por esta razão, a pensadora considerava que o programa sionista, rejeitando e sendo incapaz de aceitar a presença dos palestinos e dos povos árabes em geral, seria uma ilusão que traria consequências catastróficas para o futuro. Com certeza, a filósofa intensificaria suas críticas ao atual governo israelense e suas lideranças sionistas, que insistem em usar a guerra total, para consolidar o futuro da nação Israelense.
Deve-se contudo, tomar cuidados para se evitar comparações com regimes totalitários como o nazismo, para se analisar e criticar o conflito atual na faixa de Gaza. Israel não é a Alemanha Nazista. Deve-se sim, analisar e criticar a fabricação de cadáveres, que até de uma forma passiva, observamos no conflito atual no Oriente Médio. Não por acaso, Arendt destaca que era importante pensar sobre os tempos sombrios, mas muito mais importante seria agir para torna-los mais iluminados.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com