Os Yanomanis e a violência desumanizadora
Iniciando este tema tão dramático e essencial para esta nova exposição de ideias, destaco que se estamos digamos assim, “surpresos” ou “escandalizados”, com tamanha violência perpetuada contra seres humanos, devemos admitir nossa ignorância ou omissão com tamanha questão, pois esta faz parte de nossa história desde a colonização até a atualidade. A violência desumanizadora contra os ditos “povos originários”, seja os Yanomanis ou outros grupos indígenas, não é um fato recente.
Por sinal, ao longo da história humana, a violência desumanizadora, sempre se fez presente. Violência que se caracteriza por retirar qualquer valor moral, direitos ou indícios de humanidade para alguém, grupos, povos ou etnias, tornando-as “algo” passível de descarte ou eliminação. Sendo assim, podem ser qualificados enquanto “coisas desprezíveis”, “ameaças” ou “nocivos a um corpo social”. Sendo colocados a margem, os desumanizados, são inferiorizados e desqualificados em sua humanidade. Indique-se um ponto importante: a noção de humanidade aqui debatida, não passa pela visão abstrata de ser humano, aventando que todos somos iguais. Tal noção, além de ser ineficaz para tratar do problema, ainda incentiva a violência desumanizadora, que se dirige exatamente contra os não considerados “humanamente iguais”. Neste sentido, os Yanomanis são percebidos e tratados como pertencentes a uma subhumanidade.
A violência desumanizadora, como a que se pratica contra os Yanomanis e os povos indígenas em geral, evidencia um fator importante: há os que são considerados menos humanos do que outros, tornando-se assim subhumanos. Os direitos a serem para alguns são retirados e negados, por aqueles que se arrogam de humanidade, ou em outros termos, se colocam de modo superior ao outro, tratado como não humano e passível de alguma forma de violência.
Desta forma, penso que tratar desta questão em conjunto, já nos permite trabalhar nossa humanidade, buscando uma solução para resolver um problema que desafia nossa visão e prática de democracia, além de pôr em xeque a concepção de uma sociedade mais humana, não no sentido abstrato mas sim no mais prático possível.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com