A Cosmovisão Africana sobre o Universo e a Conduta Humana
Quando observamos a noção de Universo, a partir de uma cosmovisão africana, percebemos que a percepção de comunidade se apresenta como essencial. Não há predominância de individualismos ou egoísmos. A solidariedade entre todos os viventes constitui-se enquanto base principal para uma unidade cósmica. Nada está isolado. Tudo se encontra interligado. Tudo é solidário. Não temos uma noção de universo caótico em si.
Destaque-se que no seio dessa cosmovisão a conduta do ser humano tanto em relação a si mesmo quanto ao todo que o envolve e do qual faz parte, deve ser objeto de normas extremamente precisas. Exatamente a quebra dessas normas na ação humana, acarreta intenso desequilíbrio das forças vitais do universo, manifestando-se em variadas formas de distúrbios, estabelecendo então um quadro de caos. Nesta situação, como se torna possível, o restabelecimento do equilíbrio?
Importante frisar que qualquer ação visando restaurar o equilíbrio do universo, somente se tornará viável, mediante a correta manipulação das forças cósmicas. Neste aspecto, segundo Nei Lopes e Luiz Simas observam: “Somente assim será possível restabelecer a harmonia, da qual o ser humano é o guardião, por designação do Ser Supremo” (Lopes e Rufino, p. 23, 2020). Ressalto aqui um ponto importante: a conscientização da responsabilidade do ser humano quanto a sua responsabilidade para a manutenção e reequilíbrio da harmonia do Universo.
Desta forma, o pensamento oriundo da cosmovisão africana, coloca o ser humano como parte do todo universal, não estando dele separado e não se configurando como ente central, mas destacando seu papel na condição de “guardião”. Contrapondo-se a noção muito comum de senhor de tudo e possuidor de permissão de tudo usufruir e explorar irresponsavelmente, como se não fizesse parte deste Universo. Citando Lopes e Simas: “O ser humano não é absolutamente forte, porque, apesar de todas as suas máquinas, não pode impedir a Terra de tremer e engolir milhares de pessoas; e jamais poderá impedir o Sol de atingir a Terra e comê-la, se um leve desequilíbrio se produzir no espaço” (Lopes e Rufino, p. 24, 2020). Somos então convocados a assumir nossa humildade nesta unidade cósmica e responder ao chamado de nossa responsabilidade, deixando de lado a nossa arrogância irresponsável e danosa quanto ao equilíbrio da vida em sua totalidade.
Lopes, N. & Rufino, L. A. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2020.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com