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A era da pós-verdade e a presença das Fake News


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 21/07/2020
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Penso que para iniciarmos esta nova exposição de ideias, talvez seja necessário formular a seguinte questão: o que é a verdade? Provavelmente tal pergunta, suscite outra mais profunda: a qual tipo de verdade estou me referindo? Bem! Começando nossa reflexão a partir deste questionamento, claro que podemos nos reportar a diferentes noções de verdade: a religiosa, a científica, a filosófica e também a individual, pois todos nós, inclusive influenciados pelas outras formas, construímos nossas próprias verdades sobre o mundo. Todavia, agora me reportando à questão inicial, uma formulação de verdade pressupõe sempre a afirmação contrária ao seu oposto: a mentira. A verdade, em seu sentido mais direto representa uma relação de conformidade com a realidade. Que apresente um caráter de autenticidade. De exatidão e sinceridade. Mesmo a verdade religiosa, visa apoiar-se em fundamentos que direcionem e embasem suas práticas com a realidade. Obviamente que sempre convivemos com a prática da mentira e em muitas ocasiões, a buscamos mais intensamente do que a verdade. Convenhamos que as práticas políticas nunca versaram e ainda se mantém assim, por uma ligação forte com a verdade. Por outro lado, pode-se contrapor que nos guiamos por opiniões e não necessariamente por verdades. Sim! Não se pode negar tal condição, contudo é aqui que se localiza o cerne de nossa discussão. Primeiro:  o que é a pós-verdade? Como se encaixa nessa problematização? Destaque-se que o fenômeno de era pós-verdade, é vastamente percebido nas redes sociais, onde informações são passadas e repassadas de modo imediatista, negligenciando-se as análises e críticas quanto à sua veracidade ou não. Como assim? Descreve-se a pós-verdade enquanto uma situação para criar e modelar um tipo de consenso, relegando os fatos objetivos a uma influência praticamente nula, apelando-se às emoções e às crenças pessoais. Atente-se para o fato de que a pós-verdade difere da tradicional disputa entre falsificação da verdade e a autenticidade da verdade, resumindo-se como a ideia em que algo que aparente ser verdade, é mais essencial do que a própria verdade e as redes socias, devido à sua velocidade e alcance, funciona enquanto um veículo importantíssimo para esta condição. Por sua vez, as fakes news, independentemente das suas motivações, são classificadas como mentiras objetivas, ou seja, informações ilegítimas que não condizem com a verdade, formuladas para induzir uma comoção sobre determinado assunto. Embora não se confundam diretamente, a fake news é passível de originar o fenômeno da pós-verdade, municiando a pós-verdade de informações que são aceitas por um indivíduo ou grupos, que presumem a legitimidade desta ou daquela informação, normalmente por preferências políticas, de crença etc. Logo, a pós-verdade não necessariamente implica em uma mentira, mas sim na aceitação acrítica com relação à verdade. Perceba-se que mesmo as ditas opiniões não são verificáveis, produzindo-se assim um consenso acrítico e irreflexivo que pode ser manipulável. Temos que reconhecer que inegavelmente os efeitos e resultados da fake news e a era da pós-verdade configuram-se como bastante negativos e destrutivos para as relações sociais e as diferentes práxis humanas como a da política, por exemplo.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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