Aos que gentilmente cedem alguns minutos para acompanhar comigo a expressão de ideias, ressalto que o título da reflexão atual, passa por um fato muito comum em nossa existência: a saudade do ontem ou para ser mais exato, a nostalgia referente quanto ao que consideramos o ontem como melhor em relação ao hoje. Tal característica é inclusive própria de geração a geração. Minha mãe afirma que o nosso ontem era muito melhor do que o nosso hoje.  Eu me apanho também comparando coisas corriqueiras do ontem e comparando com o hoje, as qualificando como melhores. Penso que tal condição de ser e tempo, torna-se mais intensa e digamos dolorida, quando enfrentamos momentos como o de hoje, transpassado por uma pandemia que abruptamente rompe com o permanente e a estabilidade do dito normal. Eu penso, contudo, que muito dessa nostalgia expressa simultaneamente medo e frustração de percebemos que não controlamos o hoje, para que mesmo vislumbrando o amanhã, muito permaneça estável e sob nosso controle. Temos aqui, a tensão entre permanência e impermanência que se apresenta sempre dificultosa para nós, que pensamos e tentamos tudo controlar. Entretanto, nada ou praticamente nada permanece. A impermanência é uma constante em nossa existência. O ontem de minha mãe, assim como o da mão dela, não era de modo algum o hoje das duas. Assim como o meu ontem passou e a pandemia tal passagem só agravou. Creio que possa colocar no plural: a Covid-19 acelera o hoje e desafia a deixar o ontem no nosso passado. Saudades de fatos, músicas, filmes ou pessoas é até saudável, mas penso que excessiva nostalgia, torna-se uma perigosa paralisia. Por outro lado, se conduzir como se o hoje fosse acabar, leva a atitudes irresponsáveis que percebemos também com referência ao controle da própria pandemia. Desta forma, quando a pandemia se for ou quando nós resolvermos deixá-la ir, também penso que o nosso ontem deve ser um motivador para realizar sim um hoje melhor e um amanhã, bem melhor ainda.    

 Rogério Luís da Rocha Seixas