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O juízo verdadeiro


Por: Fernando Razente
Data: 05/02/2024
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Romanos 2.2 (ARA): “Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade contra os que praticam tais coisas.”

Como vimos no texto da semana passada, Deus não desaprova o julgamento humano se não quanto este é guiado pela hipocrisia. Afinal, o próprio Deus nos ordena julgar, mas segundo a reta justiça e não pelas aparências (Jo 7.24).

Além disso, Deus também é Juiz e seu julgamento – diferente dos pecadores – não é falso ou hipócrita, mas é sempre “segundo a verdade”; não é uma avaliação influenciada por ilusões e aparências. Deus, o Senhor, conforme lemos em 1 Samuel 16.7, “(...) não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” É disso que Paulo trata neste versículo 2 – sobre o juízo verdadeiro de Deus – o qual pretendo expor agora.

Lembre-se que, no versículo anterior, Paulo havia dito ao judeu moralista (seu interlocutor) que o ato de julgar os outros mas fazer as mesmas coisas que julga torna-o indesculpável perante Deus e, embora seja claro para qualquer um que um Deus justo não deixará o hipócrita moralista impune, é notório o fato de que há muitos moralistas que tem por costume nutrir uma contraditória ideia de complacência com eles mesmos enquanto são exigentes com os outros.

Esse costume arrogante, por sua vez, cria no coração do hipócrita moralista a esperança de que será aceito por Deus como se Deus o olhasse por meio de uma regra de juízo especial, como se ele fosse o “queridinho do papai”. O hipócrita pensa que por falar contra o pecado publicamente (embora pratique as coisas que condena em secreto) Deus o terá por inocente e o tratará com compaixão.

Sobre isso, o teólogo puritano e pastor presbiteriano Matthew Henry (séc. XVIII) declarou que os hipócritas “(...) enquanto praticam o pecado e persistem nessa prática, pensam em subornar a justiça divina protestando contra o pecado e exclamando em voz alta sobre os outros que são culpados, como se a pregação contra o pecado pudesse expiar a culpa deles.” É lamentável, porém verdadeiro que muitos pregadores deixarão de ir para o céu por apenas pregar a verdade aos outros!

Pregar contra o pecado não será útil se tal ortodoxia de língua não for acompanhada de uma piedade de vida. E, essa atitude do judeu moralista mostra que seu juizo possui dois pesos e duas medidas; é um juízo deturpado e sua visão da justiça é miope. Sua mente está tão absorvida pelo pecado do juízo ímpio que ele pensa que Deus também o julgará motivado por personalismo ou aparências externas.

Todavia, o hipócrita enxerga sua relação com Deus e o próprio Deus pelas lentes de suas iniquidades até que Deus, pelo reto juízo de sua Palavra, lance fora toda a escuridão, pondo toda a realidade à vista: “Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que na verdade eu era como tu; mas eu te argüirei, e tudo te porei à vista”, disse Deus (Sl 50.21).

Por isso, Paulo declara ao judeu hipócrita que Deus não é como ele. Paulo apresenta um enorme contraste entre o juízo hipócrita do moralista e o juízo segundo a verdade de Deus. Ele diz: “Bem sabemos que o juízo [κρ?μα/decisão ou veredicto desfavorável] de Deus é segundo a verdade [?λ?θειαν/fiel ao fato e oposto a ilusão] contra os que tais coisas praticam.”

Que coisas são essas? Ora, Paulo se refere exatamente à prática comum entre os judeus (e não menos entre nós) de fazer as mesmas coisas que condenam nos outros (Rm 2.1). Em outras palavras, Paulo está dizendo que contra essas pessoas hipócritas, há uma terrível expectativa do juízo de Deus (Hb 10.27); um juízo que não é segundo os padrões pecaminosos e ilusórios do hipócrita, mas um juízo santo, pois Deus é fiel aos fatos e à realidade que Ele mesmo conhece oniscientemente!

Como defende o teólogo alemão Adolf Pohl, a arbitrariedade não tem espaço no juízo divino, seja ele presente ou futuro. No trono de Deus não vigora nenhum critério além da própria verdade [?λ?θειαν]. E qual era a intenção de Paulo ao declarar isso neste versículo?

Com essa declaração, argumenta o exegeta João Calvino, “(...) o desígnio de Paulo é livrar os hipócritas de suas autocomplacências, para que não pensem que podem realmente ganhar alguma coisa, embora sejam aplaudidos pelo mundo, e embora se considerem inocentes; pois uma provação muito diferente os aguarda no céu.”

Pois, se é verdade que os hipócritas podem ser capazes de esconderem suas falsidades dos olhos deste mundo praticando o que condenam em secreto e apresentando-se aos homens como santos, também é verdade que há um tribunal justo que o aguarda, presidido pelo onisciente Deus, no qual ele deve pensar, pois diante do juízo divino “(...) a própria escuridão não está escondida”, diz Calvino.

Concluímos aprendendo que a verdade do juízo de Deus contra os pecadores é atestada por sua imparcialidade e inflexibilidade conforme Sua própria Santa Lei. Deus promete derramar seu juízo em quem quer que seja encontrada a hipocrisia não abandonada pelo arrependimento sincero, seja judeu ou gentio; e Deus, observa mais uma vez Calvino, “(...) não dará atenção às aparências externas, nem ficará satisfeito com qualquer trabalho externo, exceto o que procede da verdadeira sinceridade de coração. Segue-se, portanto, que a máscara da santidade fingida não o impedirá de visitar a maldade secreta com julgamento.”

Querido leitor, suplique a Deus agora comigo:

“Deus onipotente e Pai celestial, confesso ao Senhor que tenho sido exigente com meu próximo enquanto nutro complacência secreta para comigo mesmo, agindo assim com parcialidade e falsidade em meus juízos. Perdoa-me em Cristo, em quem nunca houve pecado ou qualquer decisão motivada pelo pecado. É na justiça perfeita de seu Filho justiça proposta por Ti que agora me escondo pela fé, para ser aceito por Ti, meu Pai; e é no sangue puríssimo do Cordeiro que, pela fé somente, lavo minha hipocrisia para receber o seu perdão. Que Teu Santo Espírito me leve à tristeza que gera arrependimento dos pecados e a fé na sua graça; e, que no contemplar de Teus perfeitos juízos, eu busque, como Jesus nos ensinou, a ser perfeito como és, julgamento retamente, e não segundo as aparências. Amém.”

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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