A importância do medo
No fundo, o medo é bom. Explico.
O ser humano tende a relaxar, a naturalizar situações que ele convive a todo tempo. Podem ser desde situações de baixo ou nenhum perigo até situações de alta periculosidade.
A pandemia gerada pelo novo coronavírus deu exemplos de naturalização do perigo. No início do vírus e quando foi decretado pandemia, uma alta parcela da população (ainda assim longe do ideal) teve receios, o que gerou uma série de precauções. Máscara, isolamento, álcool em gel e outras medidas se tornaram padrão. Todavia, com o passar do tempo, houve um afrouxamento do cuidado, em parte porque as pessoas começaram a pensar que, entendendo do vírus, poderiam evitá-lo. Aliado a esse descuido individual houve também menosprezos institucionais e governamentais, de pessoas e grupos que consideraram a Covid-19 insignificante.
Quem trabalha em laboratório, com microrganismos de alto nível, por exemplo, precisa estar em contínuo treinamento para que não naturalize o perigo. A situação é semelhante à da Covid-19. O profissional julga conhecer (e até conhece) a bactéria a tal ponto que se crê apto a evitá-la e, caso não consiga, acredita que seu corpo resistirá à doença sem grandes problemas. É por causa desse tipo de mentalidade que é preciso treinar as pessoas, deixando sempre um fundo de tensão, de medo. Que se imagine quem trabalha com ebola e perde o medo, isso seria catastrófico.
No fundo, o medo é bom, e a educação, por mais que goste de combatê-lo, sabe que esse elemento é tão importante quanto a confiança.