José Ciorlin:Quase um século cultivando a vida
Aos 99 anos, o agricultor de Nova Esperança carrega a memória de um Brasil rural em transformação e mantém viva a paixão pela terra.
Final da década de 1950 — José Ciorlin e sua esposa Providência Dias Ciorlin (in memoriam), ao lado dos filhos Osvaldo, Iracema, Florindo (in memoriam), Iraci e Isabel, em um registro que guarda as raízes e a história da família - Fotos arquivo pessoal
Por volta de 1926, o Brasil ainda vivia um ritmo lento, marcado pelo tilintar das charretes, pelo aroma do café secando ao sol e por lavouras que se expandiam mata adentro. Foi nesse cenário que nasceu, em 20 de maio, em Campinas (SP), José Ciorlin, filho de Antonio Ciorlin e Angelina Baggio. Desde cedo, aprendeu que a vida no campo exige força nos braços e persistência no coração.
Em 1946, aos 20 anos, José se casou com Providência Dias Ciorlin na cidade de Tupã (SP). A união não trouxe apenas uma nova família, mas também novos rumos. Pouco tempo depois, o casal mudou-se para Adamantina, uma terra que ainda estava sendo conquistada pelo homem. Ali, José foi um dos pioneiros: derrubou mato, abriu clareiras e preparou o solo para o cultivo do café — o ouro verde que movia a economia paulista na época.
O Paraná chamava
O Brasil dos anos 1950 vivia um movimento migratório intenso para o Norte do Paraná, onde terras férteis atraíam famílias dispostas a recomeçar. Em 1953, José seguiu esse caminho, fixando residência no Km 14, distrito de São Jorge do Ivaí. Tornou-se sitiante e comerciante, unindo o trabalho agrícola à atividade de venda de mercadorias para a comunidade local.
Por mais de duas décadas, sustentou a família e ajudou a consolidar a economia rural da região. Em 1976, mudou-se para Nova Esperança, mas a aposentadoria nunca foi parte de seus planos. A enxada e a lavoura continuaram a ser parte do seu dia a dia.
Trabalho que rende frutos
Ao comemorar 99 anos de vida, José Ciorlin posa ao lado dos filhos, celebrando não apenas o tempo vivido, mas a força de uma família construída com trabalho e amor
A história de José Ciorlin não é feita apenas de décadas de trabalho, mas também de conquistas. Em 2006/2007, já com 80 anos, venceu o 5º Concurso Cocamar de Produtividade de Laranja – Citricultura: A Arte de Multiplicar Laranjas, na categoria de 15,1 a 40 hectares. Ao lado da laranja, também plantou cana-de-açúcar, soja e milho, sempre buscando melhorar a produção com dedicação e conhecimento acumulado na prática.
Família como herança maior
Pai de sete filhos, avô de 22 netos e bisavô de 28 bisnetos, José construiu uma família que, assim como suas lavouras, se espalhou e floresceu. Grande parte dela vive em Nova Esperança, preservando o vínculo com a terra e com a história que ele ajudou a escrever.
Ficou viúvo em 2014, após quase sete décadas ao lado de Providência. Desde então, vive cercado pelo carinho dos descendentes e pela memória da companheira que esteve com ele nas mais duras jornadas e nas maiores colheitas.
José Ciorlin em um antigo registro, símbolo de uma vida dedicada ao trabalho no campo e à construção de sua história ao lado da família
Uma vida que inspira
Hoje, aos 99 anos, José Ciorlin não é apenas um agricultor veterano — é um guardião de memórias. Sua trajetória acompanha as mudanças da agricultura brasileira: das primeiras derrubadas de mata para o café à modernização das lavouras mecanizadas, do trabalho braçal ao uso de tecnologias que ele aprendeu a respeitar sem jamais abandonar o jeito simples de plantar.
Na varanda de sua casa em Nova Esperança, ainda fala da terra com o mesmo brilho no olhar de quando jovem. Para ele, trabalhar com o campo nunca foi apenas profissão — foi e continua sendo um modo de viver.

