A história por trás da Ceia de Natal e da celebração do Natal
Celebração cristã consolidadas séculos após o nascimento de Jesus, o Natal reúne costumes antigos, simbolismos religiosos e práticas culturais que atravessaram o tempo até chegar às mesas das famílias contemporâneas.
A ceia natalina, marcada pela partilha de alimentos e pela reunião das famílias, tem origem em antigas tradições de confraternização e hospitalidade que, ao longo dos séculos, foram incorporadas à celebração cristã do Natal - Ilustrativa/Freepik
Enquanto muitas famílias se preparam nesta quarta-feira (24) para preparar a tradicional Ceia de Natal, a pergunta sobre a origem dessa festividade e do próprio Natal muitas vezes passa despercebida. Para compreender o significado por trás da mesa farta e da data de 25 de dezembro, conversamos com o historiador Alex Fernandes França, também é Teólogo, — que contextualiza, à luz da História social e religiosa, essas tradições tão presentes no final de dezembro.
O que é o Natal e por que ele é celebrado em 25 de dezembro
O Natal é atualmente celebrado em 25 de dezembro como a comemoração do nascimento de Jesus Cristo, figura central do cristianismo. No entanto, os Evangelhos não registram a data exata do nascimento de Jesus, e estudiosos afirmam que ele provavelmente não nasceu em 25 de dezembro. “As primeiras comunidades cristãs não tinham o costume de celebrar aniversários, nem mesmo o nascimento de Jesus”, explica o historiador Alex Fernandes França. “Foi somente no século IV que líderes da Igreja institucionalizaram a celebração em 25 de dezembro, possivelmente para coincidir com festividades já existentes no mundo romano, como o solstício de inverno e festas em honra ao ‘Sol Invicto’”, acrescenta o pesquisador.
Segundo registros antigos, a primeira celebração documentada de Natal nessa data aparece por volta do ano 336 d.C., e foi consolidada como feriado cristão nos séculos seguintes.
“A escolha dessa data tem mais relação com uma estratégia de integração cultural e religiosa no Império Romano do que com evidências históricas sobre o nascimento de Cristo em dezembro”, complementa.
Como surgiu a tradição da Ceia de Natal
Ao pensar na ceia que hoje compõe o Natal brasileiro e mundial — repleta de pratos típicos, reuniões familiares e celebração — é importante entender que não existem registros de uma “Ceia de Natal” nos primeiros séculos da Igreja. A tradição se consolidou lentamente a partir de costumes sociais que antecedem a própria celebração cristã.
De acordo com historiadores, a origem da Ceia de Natal está ligada a antigos costumes europeus em que, no dia de Natal, as portas das casas eram deixadas abertas para receber viajantes e peregrinos. Famílias preparavam uma grande refeição para celebrar a data significativa, promovendo confraternização e hospitalidade.
Além disso, as celebrações do inverno no hemisfério norte já traziam a ideia de grandes refeições festivas no final do ano — um momento em que se comemorava a luz que retornava após os dias mais curtos do ano.
“O que hoje chamamos de Ceia de Natal é uma junção de tradições sociais — hospitalidade, festividade e partilha — que foram se mesclando com a celebração religiosa cristã ao longo dos séculos”, explica Alex Fernandes França. “A própria forma como se organizam os alimentos na mesa e os momentos de confraternização familiares têm raízes em práticas comunitárias que existem há milênios.”
Por que a ceia é tradicionalmente na noite de 24 para 25 de dezembro
Em muitas culturas cristãs, a ceia acontece na véspera de Natal (24 de dezembro), frequentemente após a Missa do Galo — uma celebração litúrgica tradicional que começa à meia-noite, simbolizando a vigília em antecipação ao nascimento de Jesus.
Essa vigília noturna, acompanhada de um banquete festivo, acabou por se tornar um traço cultural forte no Natal moderno. Em diversos países europeus, pratos tradicionais variam entre carnes assadas, peixes, sopas e doces típicos, integrando costumes locais à data.
O Natal hoje: fé, cultura e identidade
Ao longo dos séculos, o Natal evoluiu de uma celebração religiosa apenas para cristãos para um fenômeno global que envolve valores familiares, culturais e até elementos comerciais, como troca de presentes e decoração elaborada.
“Independentemente da data histórica ou das estratégias de adaptação cultural do início do cristianismo, o Natal — e sua ceia — tornaram-se significativos como momentos de união, acolhimento e reflexão sobre os valores que queremos preservar”, conclui o historiador Alex Fernandes França.

