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Uma troca absurda


Por: Fernando Razente
Data: 15/05/2023
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Romanos 1.23: “(...) e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.” 

Dando continuidade na exposição de Romanos 1, no texto de hoje veremos aquilo que o teólogo anglicano John Stott (1921-2011) chamou de “troca absurda” gerada pela idolatria humana. A partir do versículo 23, vemos a monstruosidade religiosa a que conduz o processo de degeneração.

Em primeiro lugar, Paulo escreve neste verso que tais homens, por ingratidão e corrupção natural, “(...) mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível”. O que isso significa? Seria a humanidade capaz de mudar a glória de Deus? Se Deus pode ser mudado pelas ações humanas, Ele ainda pode ser livre e soberano?

Para responder essas questões e chegar a uma interpretação correta da passagem, precisamos lembrar que esta mudança não é em-si da coisa (da glória de Deus). Em essência, a glória de Deus permanece imutável. Mas a mudança é para-si da coisa. Ou seja, para os seres humanos caídos a visão da glória de Deus foi mudada. Afinal, o termo mudou (?λλαξαν do verbo ?λλ?σσω) é melhor entendido como “troca” ou “trocaram” falando de uma ação subjetiva e não objetiva e ontológica.

Sendo assim, o teólogo e professor John Murray (1898-1975) comenta acertadamente que não podemos defender a ideia de que “(...) a glória do Deus incorruptível seja passível de alteração e, muito menos ainda, por parte de homens. Mas significa apenas que eles trocaram [ação subjetiva] a glória divina, como objeto de veneração e adoração, por outra coisa qualquer.”

As coisas mencionadas por Paulo enfatizam ainda mais a profundidade da loucura e absurdidade da troca. Paulo — fazendo um contraste — diz que ao invés de adorar o Deus incorruptível (que não pode ser mudado, destruído ou degradado), os homens decidiram adorar “(...) imagem de homem corruptível”, ou seja, figuras de homens (que são imagens de Deus) confeccionadas a partir de barro, madeira ou ferro que se destroem com o tempo.

O Rev. Augustus Nicodemus em seu comentário da carta de Romanos, bem notou o absurdo: a “(...) glória de Deus foi trocada pela imagem da imagem de uma imagem. Os homens adoram, portanto, uma imagem criada a partir de uma imagem que reflete a imagem de Deus.”

Mas o absurdo não para por aí. Paulo ainda diz — como que descendo ainda mais no fundo do poço da idolatria — que o homem também trocou o Deus imutável por “(...) aves, quadrúpedes e répteis.” Certamente Paulo aqui descreve os muitos deuses egípcios, bem como o panteão de deuses gregos e romanos de sua época.

Aprendemos através da História das Religiões, que enquanto o antropomorfismo era mais presente na Grécia e em Roma, o zoomorfismo e o antropozoomorfirsmo era característico dos antigos egípcios que, por exemplo, adoravam o pássaro Íbis, o falcão Hórus e o touro Ápis.

Naquelas regiões antigas onde a presunção de sabedoria divina era grande, sua loucura era manifestada em seu culto idólatra, onde evidenciavam a troca absurda que fizeram entre o Deus incorruptível e verdadeiro por meras imagens humanas e animais corruptíveis. Essa é, como bem disse o Rev. Hernandes D. Lopes, “(...) a mais tosca loucura e o nível mais baixo de degradação espiritual.”

Por fim, uma aplicação pessoal: a essência do pecado está nessa troca absurda. Precisamos estar atentos contra isso dentro do nosso próprio coração. Podemos estar fazendo essa troca diariamente. Santo Agostinho, em sua obra autobiográfica chamada Confissões (Livro I, p. 46), reconheceu que seu pecado principal “(...) era não procurar nele (Deus), e sim nas suas criaturas (...) os prazeres, as honras e a verdade.” Quando trocamos Deus por qualquer outra coisa como fonte de nossa alegria, honra e verdade, estamos tão loucos quanto os antigos pagãos!

Até a próxima. Que Deus te abençoe.

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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