O amor e a face do outro
O tema desta nova exposição de ideias, se refere à questão do olhar o OUTRO, isto é, captar na face do outro ou do que se pode denominar enquanto alteridade, quando o amor clama ou convoca o nosso EU, a agir com amor, tratando deste OUTRO como alguém e não como algo. O aceitando em seu pedido de ajuda ou reconhecimento de ser alguém digno de amor e não simplesmente um algo a ser descartado, na mera condição de coisa, não sendo tratado e compreendido como ser humano outro.
Quando trago esta questão para reflexão e discussão, reconheço a dificuldade em se exercitar o amor pelo OUTRO. Permanece mais fácil e prático o amor por nós mesmos. Nos fecharmos no ego próprio de um eu que se fecha para os outros, devido a diferentes motivos, desde o medo até a mera indiferença para com o OUTRO que apela por NÒS. Nos chamando a ajudar ou simplesmente clamando por um olhar de amor. Tratar com a alteridade ou o OUTRO, nunca se apresenta enquanto uma prática relacional fácil. Afinal, tal relação necessita de uma abertura que recuse tanto o narcisismo quanto o medo. Dois sentimentos cegantes e responsáveis inclusive pela indiferença ao Outro, pois expressam fortemente tanto a recusa para com o Outro quando o narcisista é cego frente ao outro, sendo assim a alteridade desaparece ou quando é visto como ameaça ao EU. Nestas condições, o outro simplesmente desaparece, se tornado algo que não nos diz respeito.
Em uma atualidade extremante marcada pela indiferença para com o OUTRO, nos recusamos muitas vezes de o enxergar e ajudar, o que se estabelece inclusive como uma atitude ética de compaixão e amor. Em sociedades marcadas por extrema competição, consumismo, violência e individualismo, o olhar para a face do outro, se torna uma ação difícil e até mesmo recusada, devido ao extremo intimismo e medo do outro, qualificado apenas como incômodo, material descartável ou paz, uma possível ameaça ao EU.
Olhar a face do outro e atender seu apelo, passa sem dúvida por uma ação ética de amor e reconhecimento da humanidade do OUTRO, mesmo se apresentando na condição de uma abertura difícil, por vários e diferentes motivos. Se torna então uma ação não muito fácil, mas cada vez mais essencial para se reconhecer e estabelecer relações de humanidade e fraternidade, entre este EU e o OUTRO, trazendo assim possibilidades de mais paz, harmonia, fraternidade, justiça e equidade tanto para uma situação familiar mais saudável quanto também se apresentando de modo importante, para construção de uma estrutura social e política harmônica e de fato promotora da vida comum.