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A Necropolítica e a Morte dos Corpos Negros


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 03/12/2020
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No racismo, a constituição dos corpos negros, segundo Grada Kilomba, vai afirma-los como “corpos que estão fora do lugar e por essa razão, corpos que não podem pertencer a um todo social” (2019). São Subjetividades racializadas sob as quais aplica-se uma gestão de política da morte. A necropolítica a partir do racismo, se constitui como uma política de morte dos corpos negros qualificados enquanto raça inferior, desprovidos de humanidade e dos seus direitos, sendo expostos à condição de corpos matáveis. Percebemos a aplicação das estratégias do fazer morrer dos corpos negros que não cessaram com o fim da escravidão e que se naturalizam e estruturam, enquanto práticas e técnicas coloniais, desumanizadoras e exterminadoras destes corpos, mais atualizadas e não por isso, menos cruéis. Tal situação se torna possível, quando o racismo, em uma sociedade como a nossa, se estabelece também como um processo de constituição de subjetividades, isto é, a produção de indivíduos cuja consciência e os afetos encontram-se conectados com as práticas socias racistas. Silvio Almeida aponta que os corpos negros são “subjetividades racializadas e categorizadas como subgrupos ou subalternas, que são constituídas por condições estruturais e institucionais” (2018). Assim sendo, pode-se afirmar que o racismo produz a raça e os sujeitos racializados. A raça é reconhecida enquanto fator essencial para justificar, neste exercício de poder, a desumanização de povos estranhos e a sua eventual dominação. Mbembe ainda observa que “a função do racismo é a de regulação da distribuição da morte e de tornar totalmente possível e justificável ao poder de assassinar do Estado” (2018). Praticam-se violências que se tornaram banais, pois são até corroboradas pelo corpo político-social e oficial, como as que observamos nas comunidades que podem ser consideradas como “zonas policiais”, onde a população é qualificada enquanto potencialmente nociva e perigosa, motivo pelo qual deve ser vigiada, pois a partir de uma prática necropolítica, se estabeleceu o binômio “inimigo-guerra”, configurando-se ainda enquanto referência no campo das formulações teóricas e práticas da “segurança pública” no país. Temos, portanto, uma sociedade militarizada e punitivista que continua a produzir incessantemente “inimigos”, que pela lógica da guerra, necessitam ser executados, mortos. Referimo-nos explicitamente aos “descartáveis” e “indignos” que sob esta dupla ótica “merecem” morrer. Esta situação própria da necropolítica, propõem o combate a um inimigo interno que se expressa na imagem do traficante, do ladrão, ou simplesmente dos que ostentam normalmente a condição comum de suspeitos: os corpos negros periféricos e pobres.

 

ALMEIDA, S. Racismo Estrutural. São Paulo: Ed. Pólen,2018.

KILOMBA, G. Memórias da Plantação: Episódios de racismo cotidiano. Tradução de Jess Oliveira. Ed. Cobogó, 2019.

 

MBEMBE, A. Necropolítica. Biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Rio de Janeiro: n-1 edições, 2018.

 Por Rogério Luís da Rocha Seixas

 

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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