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Fé de A a Z


Por: Fernando Razente
Data: 30/01/2023
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Romanos 1.17(b): “[...] de fé em fé”

O tema do artigo de hoje é “justificação pela fé” e não se trata de uma questão de pouca importância, ao ponto de — nas palavras do teólogo Louis Berkhof (1873-1957) — Lutero ter declarado “[...] que a doutrina da justificação exclusivamente pela fé é ‘o artigo de uma Igreja que permanece de pé ou cai’.”[1]

Calvino, outro reformador, também deu grande importância à doutrina da justificação, considerando-a como “o artigo primário da religião cristã”, “a principal dobradiça na qual a religião cristã gira” e “o principal artigo de toda a doutrina da salvação e a base de toda a religião.”[2]

Na semana passada abordei a parte “a” de Romanos 1.17, que trata essencialmente do conteúdo supremo do evangelho de Cristo, isto é, a justiça de Deus. Vimos que a justiça necessária para sermos aceitos (justificados) por Deus e da qual não temos por natureza nos é revelada como um presente gratuito na vida e nas obras da pessoa de Jesus Cristo, o centro do evangelho: “[...] visto que a justiça de Deus se revela no evangelho” (Rm 1.17a).

Hoje, na continuação do versículo 17, a parte “b”, quero mostrar como Paulo expõe o caminho, ou o meio pelo qual podemos obter essa justiça de Deus para a nossa justificação. Paulo escreve: de fé em fé” (Rm 1.17b).

Paulo já havia dito que a salvação é de “todo aquele que crê" (Rm 1.16), mas agora ele usa a expressão “de fé é em fé”. Ambas nos comunicam que a salvação é obtida somente pela fé ou pelo crer no evangelho e não por obras humanas, isto é, “embora os crentes participem de maneira ativa no recebimento do dom da salvação, eles não contribuem com nenhum mérito para isso.”[3] A salvação é pela fé. Portanto, onde está a diferença entre as duas expressões?

Note que nesta segunda expressão, temos a ideia que crer ou ter fé no evangelho não é algo apenas para aquele momento decisivo em que nos rendemos a Cristo. Alguém poderia pensar que uma vez que creu, nada mais deve ser feito ou vivenciado. Mas, na verdade, o que aprendemos com Paulo nesta passagem é que a fé é algo dinâmico, constante, permanente, diário e, acima de tudo, ininterrupto.[4]

Quando, de fato, cremos, nós passamos a viver “de fé em fé”, um caminho que parte da fé e na fé termina, como disse o teólogo escocês F.F. Bruce (1910-1990).[5] Significa que estaremos em um estado de contínuo crescimento na graça e no conhecimento de Deus, experimentando “mais e mais através da fé”[6] os efeitos do evangelho em nossas vidas.

Não se trata de duas salvações ou de ser salvo a cada momento em que cremos, mas uma vez que fomos justificados pela fé somente, é mister que, como resultado, iremos progredir mais ainda nessa fé, rumo a uma maior familiaridade e intimidade com o nosso Salvador.

Como observou João Calvino comentando esta passagem: “Quando a princípio experimentamos o evangelho, de fato vemos o semblante sorridente de Deus voltado para nós, mas à distância: quanto mais o conhecimento da verdadeira religião cresce em nós [pela fé], por nos aproximarmos, contemplamos o favor de Deus com mais clareza e familiaridade.”[7]

Na semana que vem, se Deus permitir, analisarei a parte “c” de Romanos 1.17.

Até a próxima e que Deus te abençoe!



[1] BERKHOF, Louis. História das doutrinas cristãs. São Paulo: PES, 2015. p. 203.

[2] CALVINO,, Institutes 3.2.1, 3.11.1; também sermão sobre Lucas 1.5-10 no Corpus Reformatorum (org. W. Baum; Berlim: C. A. Schwetschke, 1863-1900), 46:23.

[3] Bíblia de Estudo de Genebra. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, p. 1474.

[4] POHL, Adolf. Carta aos Romanos, p. 39.

[5] BRUCE, F. F. Romanos: introdução e comentário, p. 66.

[6] MURRAY, vol 1, p. 70.

[7] CALVINO, João. Romanos, p. 68.

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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