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Eu me importo


Por: Veja Jornal
Data: 25/02/2021
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Qual a importância que damos para a empatia, para a justiça, para o cuidado com quem é mais frágil? O mundo moderno e real tem se tornado cada vez mais um lugar de pessoas que não se importam. A apatia, o egoísmo e o egocentrismo tornaram muitos humanos pessoas dispostas a qualquer tipo de atrocidade para alcançarem seus objetivos. Desde Maquiavel, no século XV, os fins têm cada vez mais justificado os meios e a falta de remorso passou a ser vista por muitos como uma qualidade e não um defeito extremamente grave. É sobre isso que se trata o filme da Coluna Sétima Arte dessa semana, sobre essa falta de ética e caráter que vem, infelizmente, definindo a humanidade nos últimos tempos. Sobre o ultrajante, mas divertido Eu Me Importo, você vai ficar muito bem informado na coluna dessa semana.

O filme começa com uma afirmação bem emblemática, o mundo é feito de cordeiros e lobos, a questão é: quem é você nessa concepção de mundo? A protagonista de Eu Me Importo com certeza não é um cordeiro. Ela é a representação da vilania em pessoa, tanto que por várias vezes você vai acreditar estar vendo em cena uma vilã de novela global das 21h. A única diferença é a motivação, em geral as vilãs de novela despertam uma certa admiração em sua vilania, aqui não há admiração nenhuma, pelo contrário, quanto mais o tempo passa, mais o expectador odeia Marla Grayson.

Interessante é que o contraponto de Marla Grayson fica a cargo de alguém tão ruim quanto ela, o mafioso russo Roman Lunyov. Ou seja, na falta de um herói para apoiar, cabe ao público ficar dividido entre torcer para que um ou outro vilão acabe se dando mal no final. Esse fato faz dessa obra um filme difícil de classificar. Pela lógica deveria ser um thriller, mas o deboche abre espaço para que o longa seja entendido também como comédia, mesmo que muito sutil, já que a risada, nesse caso, nunca é gratuita. Por outro lado, o desenrolar dos fatos deixa um gosto amargo na boca do expectador gerando uma leve sensação de que, na verdade, a trama tem muito mais de drama do que se possa imaginar.

Tecnicamente o filme é muito competente. A direção e o roteiro ficaram a cargo de Jonathan Blakeson, que até então era conhecido apenas por seu filme A 5ª Onda e algumas outras obras menores. À frente desse projeto ele foi capaz de alcançar a façanha de manter o expectador apreensivo diante da tela por duas horas, isso sem ter a boa e velha base maniqueísta de bem contra o mal. Pelo contrário, na obra em questão o que se tem é o mal contra o mal em sua forma mais humana. Além disso, o clima “gato e rato” entretém muito bem e satisfaz a todos os gostos.

Outro ponto positivo é o elenco recheado de estrelas, a começar pela protagonista. Marla Graysson é interpretada pela eterna Garota Exemplar, Rosamund Pike. Ela tem um dom natural de fazer com que o público odeie suas personagens e Marla não foge a essa regra. Inescrupulosa e sem remorso, cada vez que ela dá um sorrisinho sacana ao conquistar uma vitória é um tipo de raiva diferente despertada no público. Já seu oponente ficou nas mãos do talentoso Peter Dinklage, ele faz seu papel com muita competência, mas eu diria que os alívios cômicos impostos a seu personagem diminuem sua grandiosidade em cena. Mesmo assim, Dinklage é sempre um evento quando aparece. Outra que deveria ter mais espaço na trama é fantástica atriz Dianne Wiest, é incrível como ela fica melhor a cada ano que passa (eu que sou velho ainda me lembro dela no icônico Flashdance, de 1983 – risos).

Vamos à trama! Em Eu Me ImportoMarla Grayson é uma renomada guardiã legal que gosta de cuidar de pessoas idosas e ricas. Às custas dessas pessoas, ela leva uma confortável vida de luxo. Quando ela pensa ter encontrado uma nova vítima perfeita, descobre que a mesma guarda segredos perigosos. Com base nisso, Marla vai ter que usar toda sua astúcia se quiser continuar viva.

Por que ver esse filme? Após a indicação de Rosamund Pike ao prêmio de Melhor Atriz em filme Musical ou Comédia por Eu Me Importo, o longa ganhou muito mais espaço e só isso já o torna interessante. Mas outros aspectos também podem ser considerados como positivos. Primeiro, o questionamento que a obra gera a respeito dos posicionamentos particulares de cada indivíduo. Digo isso porque, em geral, toda pessoa ficará indignada com a forma de agir de Marla, mas se essas pessoas estivessem no lugar dela será que não agiriam do mesmo jeito? Esse senso de justiça que surge em nós a partir do senso comum é um bom termômetro para entendermos o quanto esse tipo de atitude corrupta nos incomoda, ou não, e só isso já vale o filme! Além disso, a curiosidade de saber como uma trama com esse teor irá se desenrolar também é um bom motivo para assisti-lo, pois o final acaba deixando um recado bem claro para a sociedade. Mas para saber qual é, você terá que ver o filme. Aproveite que ele está disponível na Netflix e boa sessão!

 

 

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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