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Espiritualidade em tempos de pandemia


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 04/08/2020
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Desculpem-me se nesta nova exposição de ideias, mais uma vez, surge o tema da pandemia do Coronavírus, mas indubitavelmente este acontecimento suscita e ainda suscitará, questões e problematizações que perdurarão por longas gerações. Mais especificamente, quanto a reflexão que estou propondo nesta oportunidade, referimo-nos a uma tragédia de proporções que ainda não temos noção de avaliar com um tema às vezes delicado de se expor: a dimensão humana da espiritualidade. Percebam que não me focarei restritamente no sentido da religião, embora inegavelmente haja relação, mas deve-se levar em conta que há os que cultivam a espiritualidade sem necessariamente seguirem uma confissão religiosa. A espiritualidade é caracterizada como a dimensão própria de todo ser humano e o estimula na experiência transcendente de tentar dar sentido e resposta aos aspectos fundamentais da vida. Como coloca Viktor Frankl, “a experiência religiosa faz parte de uma vida com sentido, em que o ser humano explora a força de sua dimensão espiritual” (*Frankl, 2010). Nesta perspectiva, tanto a espiritualidade quanto a religiosidade, englobam a dimensão essencialmente experiencial. A espiritualidade, nesse sentido, não é monopólio das religiões. Ela é inerente ao ser humano e comumente se expressa por meio da religiosidade, mas a religião pode não estar necessariamente presente. Caracteriza-se enquanto a dimensão que eleva o ser humano frente às questões da sua interioridade, no anseio de encontrar respostas às perguntas existenciais: De onde vim? Para onde vou? Qual é o sentido da minha vida? E aqui aproveito para inserir a pandemia: Por que aconteceu isso conosco? Por que tantos morreram e morrem? Estamos sendo punidos ou testados? Fomos abandonados? O que virá depois? Necessitamos repensar não apenas nossa relação com Deus, mas com os nossos ditos semelhantes? Desta forma, a pandemia do Covid-19 também traz desafios e questionamentos para este âmbito tão complexo da existência humana, devido principalmente ao potencial tão traumático provocado pelo Coronavírus, confrontando-nos com a nossa finitude e vulnerabilidade. Por outro lado, temos a oportunidade de avaliar e repensar de que modo temos experimentado e praticado a espiritualidade não só no momento da pandemia, mas sim como será no pós-pandemia. Verificar que enquanto consideradas como temáticas comuns em nosso cotidiano social, a religiosidade e a espiritualidade podem e devem ser formas de abertura para novas relações, tanto com a religião no seu sentido institucional quanto também com os arreligiosos, visando constituir uma estrutura social mais sadia, promovendo-se maior tolerância e reconhecimento às liberdades e escolhas, além de repensar princípios, como a solidariedade e a fraternidade.

*Frankl, V. (2010). O homem em busca de sentido. Petrópolis: Vozes.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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