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A um mestre, minha gratidão


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 17/08/2023
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Da terceira série do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio estudei na Fundação Bradesco de Paranavaí. Foram excelentes anos de aprendizado nos quais tive a oportunidade de aprender com excelentes professores, dentre eles, o professor Sebastião Soares de Castro.

O professor Sebastião, além de ensinar língua portuguesa e língua inglesa, é um artista versátil: escritor, pintor, ator, diretor teatral, escultor, dentre outras qualidades que ainda não conheci. Ele foi meu professor ao longo dos três anos de ensino médio, período que nos aproximamos, a ponto de que volta e meia eu ia para Maringá com a família dele e de que quase todos os finais de semana (sábado e domingo!) jogávamos futebol.

As aulas com o professor Sebastião, geralmente quatro por semana, eram momentos de especial aprendizado, pois ele lecionava as matérias que eu mais gostava, redação e literatura, além do que ele era (é!) uma figura diferenciada, que se veste sempre de camisa social com gravata, possui uma letra espetacular e tem um vocabulário dos mais sofisticados que eu já conheci (senão o mais sofisticado).

Quando o mestre percebia que a sala estava alvoroçada, ele se calava, e logo a sala fazia silêncio. Porém, quando a conversa extrapolava os limites, ele chegava a ficar uma semana em absoluto silêncio com a turma, apenas escrevendo o conteúdo no quadro. O silêncio do professor Sebastião expunha de forma dura as misérias dos alunos.

Quando tudo estava bem, isto é, quando os alunos estavam bem, geralmente as aulas do professor eram muito acima da média. A erudição era parte intrínseca do seu repertório, que envolvia cinema, filosofia, ícones da pintura, etc., além de oficinas de teatro, escrita e pintura em atividades extraclasse. Eu me aproveitei de tudo que o mestre tinha a oferecer, ainda que meus desenhos não passassem de rabiscos ridículos.

Certa vez, o professor Sebastião, para explicar a obra “Macunaíma”, de Mário de Andrade, montou um pequeno camarim na frente da sala, com o uso de paus e de tecidos escuros. De repente: surpresa! Havia se maquiado e colocado umas roupas diferentes. Ao invés de dissertar sobre a obra de Mário de Andrade, ele se tornou o próprio Macunaíma, “o herói sem nenhum caráter”. Que espetacular! Jamais esqueci esse momento, a ponto de que estou, após quase vinte anos, relembrando-o.

Concluí o ensino médio em 2005, e alguns anos depois me tornei professor, inclusive na própria Fundação Bradesco, e as memórias do professor Sebastião são verdadeiras colunas do meu aprendizado. Nunca é demais honrar um mestre!

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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