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A importância da escrita


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 14/09/2023
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Um problema de todo estudante é a escrita. Escrever é um ofício árduo e que requer disciplina e técnica. Ninguém nasce escrevendo e tampouco se torna escritor porque escreveu uma redação de vestibular ou um artigo científico. Todavia, sem dúvida que o desenvolvimento da escrita também passa por redações e artigos científicos.

Ao longo da graduação, seja ela qual for, uma das atividades mais constantes, e também mais difíceis, é a de escrever. Enquanto professor, pergunto-me: o que fazer para que os meus alunos possam se sair melhor na redação de relatórios, resenhas, resumos e artigos?

Para resolver, ou ao menos minimizar o problema trazido pela questão anterior, há desde saídas mais simples e individuais até saídas mais complexas e coletivas. No que diz respeito à hipótese mais simples, o estudante pode se aplicar a escrever regularmente tendo por base cursos de redação. No que diz respeito à outra hipótese, as graduações poderiam ter em seu currículo disciplinas como: redação científica, português instrumental e inglês.

As três disciplinas acima deveriam ser introduzidas logo no primeiro ano da graduação, pois trabalhos acadêmicos abundam desde o primeiro dia de aula. Como exigir, de repente, uma resenha de alguém que no ensino médio confundia pesquisa com plágio? Para isso serve, em partes, a disciplina de redação científica, para preparar o aluno para os mais diversos textos exigidos em uma graduação. Nunca é demais dizer que alguém aprende a escrever escrevendo, então, essa disciplina deve ser uma oficina. E há um detalhe: escrever se faz reescrevendo, logo, é preciso que o aluno se veja constantemente diante do próprio texto com o intuito de burilá-lo o máximo possível. Segundo ensina William Zinsser, em “Como escrever bem”: “Reescrever é a essência de escrever bem: é onde se ganha ou se perde o jogo” (ZINSSER, 2017, P. 105).

Quanto à língua portuguesa instrumental, ela é ferramenta auxiliar da redação científica, afinal, ninguém escreve sem conhecer o idioma. Não deveria ser um luxo dos letrados o conhecimento do idioma, mas um compromisso de todo estudante. Utopia? Que seja. Conhecer figuras de linguagem faz com que um texto se enriqueça e, consequentemente, amplie a visão de mundo sobre determinado assunto. No fundo, a função dessa disciplina é ampliar o universo do estudante. Quanto mais linguagem, mais conhecimento de mundo.

Por sua vez, a língua inglesa é de uso mundial. Que estudante não sente em algum momento necessidade de ler algo em inglês? Uma simples saída pelo centro de qualquer cidade ou um simples acesso à internet é suficiente para saber o alcance desse idioma. E é possível acrescentar: às vezes é aprendendo um novo idioma que o nativo é melhor desenvolvido. Aprende-se por analogia, e o estudo de um idioma é rico no uso desse recurso.

Com essas três disciplinas apresentadas o estudante certamente estará mais preparado para os compromissos universitários. Mas, essas disciplinas devem parar no início do curso? A minha sugestão é que não, mas que retornem dois anos depois, quando o estudante já estiver mais amadurecido. Brincando com Piaget, trata-se de um movimento de equilibração.

O escritor raramente sai a publicar um texto do dia para a noite. Ele costuma deixá-lo na gaveta por um tempo. Esse é o tempo do amadurecimento. Às vezes o autor lê o texto e acrescenta ideias, às vezes ele faz cortes ao original. A questão é que se o trabalho fosse publicado de imediato ele estaria verde. Por analogia, no primeiro ano o estudante está verde, no entanto, com auxílio de várias ciências, conteúdos são acrescentados. Depois de “dormir” por um tempo, é hora de rever o aluno e burilá-lo um pouco mais.

Agora falarei em primeira pessoa, pois sou professor e sei do tempo enxuto dos currículos. Eu sei que cinco disciplinas destinadas a formar o escritor pode pesar no tempo do currículo. Mas, uma vez que a sociedade é movida por textos, das mais diversas espécies, forjar o escritor é favorecer um profissional mais capacitado para o próprio mundo. Não se trata de criar Machados de Assis, mas, isto sim, de formar pessoas que saibam se comunicar em um mundo que é feito essencialmente pela linguagem.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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