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A retenção da verdade


Por: Fernando Razente
Data: 27/02/2023
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Romanos 1.18(c): “[...] que detém a verdade pela injustiça;”

Na semana passada observamos o sentido dos termos “impiedade” e “perversão” encontrados em Romanos 1.18 e como eles refletem os tipos de comportamento pelo qual a ira de Deus se revela do céu. A pergunta a se fazer hoje é: qual a origem da impiedade e da perversão? Qual a raiz dessas ações que provocam a ira divina?

Na continuação do versículo 18, Paulo tenciona responder o que os homens fazem que gera a impiedade e a perversão. Ele escreve: “[...] que detém a verdade pela injustiça;” (Rm 1.18c). Três termos são importantes para a compreensão do texto: 1) detém; 2) verdade e 3) injustiça.

Em primeiro lugar, o texto revela que há uma ação intencional referindo-se aos “homens”, isto é, a humanidade como um todo. A ação intencional é descrita por Paulo pelo verbo “deter” (κατεχ?ντων). Esta palavra aparece no original grego sendo passível de duas formas de interpretação.

O primeiro sentido de “deter” é “sufocar” e traz a ideia de alguém sufocando um indivíduo debaixo d'água até matá-lo por afogamento. Muitos estudiosos do Novo Testamento defendem essa tese. O segundo sentido de katechont?n seria de “reter” ou “conter” e traria a ideia de alguém que recebe algo e processa aquilo à sua maneira.

Particularmente, tendo a concordar com esse segundo sentido por dois motivos: o primeiro, como defende Murray, porque o uso do termo katechont?n nos demais textos neotestamentários aparece sempre neste sentido de “reter”. O segundo motivo é que dar ao homem, em estado de morte pelo pecado, a gigantesca capacidade de sufocar e até calar a voz de Deus, me parece um erro. Portanto, sigamos o segundo sentido.

Em segundo lugar, o texto revela um objeto como alvo da ação intencional de deter: a verdade (?λ?θεια). Al?theian é um termo filosoficamente muito importante. Para os filósofos gregos antigos, tratava-se de uma expressão que simbolizava tudo aquilo que era não-oculto, não-escondido e não-dissimulado. Era o desvelamento do mundo que consistia na realidade.

Esse sentido de verdade como algo não-dissimulado referindo-se à verdade, parece estar de acordo com a intenção de Paulo, pois ao empregar al?theian como um ato de Deus — ao revelar seu próprio caráter ao homem (na natureza e na consciência, cf. vs. 19-20) — ele está concluindo que o homem retém algo de verdadeiro do caráter de Deus que não é — naturalmente ou a priori — dissimulado.

No entanto, precisamos lembrar que o texto ainda nos informa o meio pelo qual o homem retém essa verdade. Paulo encerra: “[...] pela injustiça (?δικ??)”. Curiosamente, o termo adikia aparece novamente aqui, expressando o que o homem faz com a verdade, a auto-revelação de Deus. Sendo adikia uma palavra com sentido de perversão e violação, a conclusão é que daquilo que é não-dissimulado, o homem retém exatamente com uma natureza pervertida, violada, dissimulada e transforma a verdade em mentira (Cf. Rm 1.25).

O resultado óbvio disso é uma interpretação inadequada da realidade revelada por Deus. Embora seja algo intencional, o homem não pode escolher fazer de outra forma, pois essa iniquidade faz parte de sua natureza caída em pecado. É como alguém tentando descrever com precisão as diferentes tonalidades de uma pintura usando óculos escuros. Ele jamais conseguirá interpretar as tonalidades da pintura corretamente. Sua retenção do que vê sempre será distorcida pelas suas lentes escuras.

De modo semelhante, o homem natural — para usar uma expressão paulina (1 Co 2.14) — não pode reter adequadamente a verdade de Deus. Seus óculos — sua alma — está mergulhada em pecado e sua interpretação será sempre uma distorção daquilo que retém, trocando as coisas, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador (Rm 1.25).

Até que a graça não lhe conceda novos olhos para ver, ou seja, um novo coração para reter adequadamente a informação da verdade divina na consciência e na natureza, ele sempre fará mal uso de seu entendimento acerca dessa realidade.

Concluindo, as atitudes gerais de impiedade e perversão humana contra qual Deus revela sua ira adequadamente tem origem no fato de que, ao reter a auto-revelação de Deus na natureza e na sua consciência, o homem a perverte, a modifica, a dissimula com e por conta de sua natureza pecaminosa.

A capacidade humana de compreender corretamente a origem da verdade e o caráter de Deus advém de seu coração obscurecido pelo pecado e dominado pela iniquidade (Cf. Rm 1.21; Rm 3.11).

Portanto, naturalmente, nenhum ser humano é capaz de reconhecer corretamente a Deus e suas obras sem que antes a luz da graça não brilhe sobre ele e o ilumine para o conhecimento adequado. Nenhum ser humano pode, por vias puramente naturais chegar ao pleno conhecimento da salvação, É preciso que antes, a graça do Senhor lhe faça enxergar.

Na semana que vem, se Deus quiser, daremos início a exposição do verso 19. Até a próxima. Que Deus te abençoe!

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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