Ex-prefeito governou o município entre 1973 e 1977 e novamente de 1989 a 1992; aos 91 anos, ele recorda obras, desafios e parcerias que impulsionaram o desenvolvimento local.

Dando continuidade à série especial de entrevistas com os ex-prefeitos de Nova Esperança, o Jornal Noroeste relembra nesta edição a trajetória de José Ercílio Kreling, que administrou o município em dois períodos — de 1973 a 1977 e de 1989 a 1992. Aos 91 anos, Kreling recebeu a equipe em sua residência, acompanhado dos filhos Rafael e Graziella Kreling, para um bate-papo repleto de memórias e histórias que ajudaram a moldar o desenvolvimento de Nova Esperança.

A iniciativa faz parte das comemorações pelos 73 anos de emancipação política do município, celebrados em 14 de dezembro, data que marca a instalação oficial de Nova Esperança em 1952, com a posse do primeiro prefeito eleito, Dr. José Teixeira da Silveira. O projeto do Jornal Noroeste busca resgatar a história local por meio da voz daqueles que tiveram a responsabilidade de governar, contribuindo para compreender o presente e projetar o futuro da cidade.

Balanço

Durante suas duas administrações, José Ercílio Kreling deixou uma marca profunda em diferentes áreas. “Sempre procurei administrar pensando nas pessoas, no bem-estar da comunidade e na qualidade de vida dos nova-esperancenses, a maior riqueza de um município é a sua população”, afirmou o ex-prefeito.

Na saúde, seu governo foi responsável pela construção do Hospital Municipal, dos Postos de Saúde da Vila Regina e Bela Vista, e pela reforma e ampliação das unidades de Barão de Lucena e Ivaitinga, onde implantou atendimento odontológico. Também criou o Pronto Socorro Municipal com atendimento 24 horas, em parceria com o Hospital do Sindicato, e instalou cinco gabinetes odontológicos.

Outras conquistas incluem a criação do Laboratório de Análises Clínicas, o serviço de prevenção ao câncer ginecológico, e a implantação da Vigilância Sanitária e Epidemiológica. “A saúde sempre foi prioridade, até por uma questão pessoal, meu pai faleceu por falta de um atendimento correto e digno, e eu como prefeito tinha a oportunidade e o dever em fazer o melhor possível para as pessoas serem atendidas com humanidade. Eu sabia que cuidar bem da população era garantir o futuro da cidade”, recorda. Sob sua gestão, o município alcançou índices inéditos, reduzindo a mortalidade infantil a níveis comparáveis aos de países desenvolvidos

Uma reparação em homenagem

       “Vou aqui fazer uma reparação da história. Quando assumi a primeira administração o município possuía brasão e hino, mas não bandeira. Então elaboramos um concurso público para a escolha da bandeira. Várias artistas participaram, daqui de outras cidades e estados. A banca era formada por distintas pessoas. Depois de várias seleções chegaram aos finalistas, foi aí que descobri que o trabalho vencedor era o da Terezinha, minha esposa. Fiz algo que hoje me arrependo, conversei com ela, e para evitar conversas de pessoas maldosas, pois havia premiação, solicitei a retirada do nome dela e quem estava em segundo ficou como escolhido”

Desenvolvimento urbano e infraestrutura

Kreling também foi responsável por uma verdadeira transformação na área urbana. “Foi um salto na qualidade de vida. Nova Esperança precisava crescer com estrutura e dignidade”, destacou. Em sua administração, foram construídos os prédios da Prefeitura, da Câmara Municipal, da Agência de Rendas, dos Correios e do Ciretran (Detran). “A prefeitura eu fiz um esboço, eu queria no formato de braços abertos, no sentido de acolhimento. Um prefeito tem que saber ouvir e acolher sua gente e sua equipe”

No saneamento básico, foram implantados 11 mil metros de rede de esgoto e 2.500 metros de iluminação pública moderna, também asfaltou avenidas e dezenas de ruas além do recapeamento de 125 mil metros de ruas e avenidas. Na área rural, construiu três pontes de concreto e mantinha as estradas rurais em modo adequado, “fizemos o mapeamento de todas elas e criamos as diretrizes para a sua conservação” lebrou Kreling, reformou o cemitério e a rodoviária.

Graças à amizade com o então governador Jaime Canet Júnior (1925-2016), conseguiu o asfaltamento da Estrada Inglesa, que passa em frente ao Clube Campestre, e o asfaltamento da estrada que liga Nova Esperança a Santo Inácio, passando por Uniflor, Cruzeiro do Sul, Paranacity e Colorado.

Levou a distribuição de água para o distrito de Barão de Lucena e também a telefonia, “curioso falar isso hoje, com tanta tecnologia, mas na época o telefone era raro e caro. Barão estava isolada. O governador veio inaugurar, fez a ligação aqui de casa e quem atendeu lá foi um dos Zacharias”.

A erosão foi um grande desafio nas décadas iniciais do município, Kreling investio muito nas galerias pluviais, combate a erosão. Um defensor da arborização urbana, foi o prefeito que mais plantou árvores no município, teve apoio de técnicos da área para a escolha das espécies e também de outro grande entusiasta que foi o Anibal Bianchini. O ex-prefeito defendia a formação do cidadão, acredita que quem sabe da importância de uma árvore não irá pedir o seu assassinato. “Foram árvores bem conduzidas, que bem mantidas, poda correta, sobrevivem mais que muitos de nós. Criamos o viveiro municipal, onde fazíamos as mudas de árvores, demos início ao horto, uma forma também de segurar a erosão, área reservado onde depois o Dr. Severino fez o parque das grevilhas. Alí também fazíamos mudas de café e havia uma grande horta que atendia as escolas”

Educação, habitação e agricultura: pilares de uma gestão visionária

Na educação, Kreling foi responsável pela construção das escolas Comecinho de Vida, Jorge Faneco, Cônego, Filomena e a maioria das unidades rurais em sua primeira administração, além da reforma de diversas unidades e da doação do terreno para a APAE, onde foi o primeiro presidente. “A educação sempre foi o caminho para o futuro. Investimos 35% do orçamento municipal na área”, relembra.

Criou o curso de capacitação para professores, forneceu materiais didáticos e escolares gratuitos, implantou o magistério municipal e o transporte escolar que beneficiava mais de 3 mil alunos, inclusive de distritos. Também construiu a cantina central e a vaca mecânica, responsável por produzir 3 mil litros de leite de soja por semana, distribuídos nas escolas e na APAE.

Com o lema “morar bem é viver bem”, construiu mais de 800 casas populares e doou 120 terrenos a famílias de baixa renda. Entre os conjuntos habitacionais de sua gestão estão Capelinha, Ouro Branco, Emílio Médici, Nova Esperança, Vale do Sol, Barão de Lucena e Ivaitinga.

Na agricultura, trouxe a sericicultura (criação do bicho-da-seda), tornando Nova Esperança a Capital Nacional da Seda, com 1.600 barracões e 8.500 empregos gerados. Criou o Viveiro Municipal (com doação de 1,1 milhão de mudas), incentivou a viticultura, a piscicultura e a seringueira, além de perfurar oito poços semiartesianos na zona rural.

Segurança, esporte, lazer e assistência social

Em sua gestão, também foram erguidas as sedes da Delegacia de Polícia Civil, do Tiro de Guerra e do Batalhão da Polícia Militar. Na área esportiva, adquiriu o terreno onde hoje está o Ginásio de Esportes Severino Bezerra (Capelão), construiu campos de futebol e incentivou os Jogos Regionais.

Lembra com carinho da construção e reforma das praças dos distritos, de várias praças do município e principalmente a do paço e da Mello Palheta, “esta eu pedi ao arquiteto de Curitiba, que projetasse uma praça de capital para o interior, para as famílias com fonte e preservasse o verde, e assim fez. Elaborou um calçamento nobre em pedra, com desenho da capelinha e a folha de amoreira, nossa identidade. A inauguração foi um grande evento. Pena que não conservaram.”

“Eu sou de uma família de imigrantes, éramos em quinze irmãos, trabalhávamos muito, quando criança fazia as entregas para minha mãe que era costureira e depois fui engraxate, minha alegria era deixar o que ganhei no dia em sua máquina de costura. Não passamos necessidades, mas privações sim. Por isso meu foco sempre foi a família como um todo, desde a criança ao idoso. Além do já falado, eu pedia para ter show gratuito na festa da cidade, rodeio gratuito e quando vinha circo e parque infantil aqui, eu exigia ingressos para todas as crianças do ensino público, eu não tive isso mas eles sim.” Lembra com emoção o ex-prefeito.

Com o apoio da primeira-dama Terezinha de Jesus Martinêz Kreling (de saudosa memória), coordenou importantes ações sociais, como a reforma da creche Mons. Lauria e a retomada do Lar Betel e sua reforma, a reativação da Guarda Mirim e o apoio ao CCOS, liderado pela irmã Luciana. Juntas, elas promoviam campanhas solidárias, confeccionavam cobertores e enxovais e distribuíam cestas natalinas às famílias carentes.

Um legado que permanece

Ao relembrar os anos de administração, José Ercílio Kreling se emociona:
“Fiz tudo com amor por Nova Esperança. Cada obra, cada projeto, foi pensado para melhorar a vida das pessoas. Tive a bênção de Deus em ter tido uma ótima esposa, a minha Tere, que sempre esteve ao meu lado, apoiando e sendo firme na fé, na oração e no trabalho voluntário. Sou grato também a equipe que tive nos dois mandatos e aos funcionários públicos, que foram os meus parceiros em todas essas conquistas. Sou feliz por ter escolhido essa terra para viver, o tempo passa, mas o que a gente faz com amor permanece. ”

Com um legado que combina desenvolvimento, humanidade e visão, Ercílio Kreling ocupa um lugar especial na história do município — um exemplo de liderança e compromisso público que ajudou a construir a Nova Esperança de hoje.