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O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 24/03/2020
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Os cursos superiores têm uma duração média de quatro anos, sendo óbvio que vários cursos têm um tempo de duração diferente, como três, cinco ou seis. Logo se vê que não se trata de um tempo curto, de quatro, cinco ou seis dias. E, geralmente, no último ano da graduação há um Trabalho de Conclusão de Curso para ser feito, o famoso e às vezes temido TCC. Famoso porque é difícil quem não tenha ouvido falar desse nome, e temido porque dele se fala com reservas e receios até difíceis de (d)escrever.

Entretanto, um trabalho de conclusão de curso não é uma espécie de “prova de fogo”, mas algo que serve para demonstrar que o aluno é capaz de dissertar sobre determinado assunto de modo aprofundado, isto é, se o aluno sabe pesquisar. Uma vez que o tripé da universidade se constitui em “Ensino, Pesquisa e Extensão”, nada mais lógico que a graduação prepare para a pesquisa.

A extensão de um TCC varia muito, sendo que já orientei desde artigos de 15 páginas até trabalho de sessenta, setenta páginas. O que liga todos esses trabalhos, porém, é uma ideia a ser perseguida do início ao fim da pesquisa. Quem disse que para um trabalho ser bom deve ser extenso? E quem disse que para um trabalho ser bom deve ter 200 citações? Quantidade não é sinônimo de qualidade.

Às vezes o tema de um TCC surge da forma mais inusitada e prazerosa possível, como no caso de uma conversa de corredor ou diante de um filme. Como sou formado em História e Pedagogia, acabo por orientar no curso de Licenciatura em Química do IFPR Campus Paranavaí em várias áreas correlatas à minha formação, como a história e o ensino de Ciências.

Dia desses eu estava conversando com um aluno do 3º de Química e ele me perguntou o que poderia trabalhar no TCC. Pensei um pouco e disse: “por que não utilizar a sua história de vida como metodologia de pesquisa?”. Traduzindo: por que não utilizar a vida do sujeito como objeto de estudo? E a minha orientação ao aluno foi bem simples: compre um caderno e faça um diálogo ao longo de um trimestre, anotando em umas 10, 15 linhas o seu dia a dia.

A ideia é a de que, sendo o aluno acima um estudante, trabalhador e pai de família, que esses aspectos sejam analisados depois de colhidas as “informações brutas”, isto é, as informações no diário. Esse procedimento, depois, pode ser cotejado com ideias de pesquisadores da Pedagogia Social, como o professor Roberto da Silva, da Universidade de São Paulo (USP), que ao longo de suas pesquisas fez de si próprio objeto de estudo, e cotejar com filósofos do porte de Michel Foucault (1926-1984), que tratou extensivamente da escrita de si.

O que é possível extrair pela simples ideia de TCC acima trazida? É possível dizer que, às vezes, coisas simples tornam-se complexas, afinal, o simples tantas vezes é complexo, e que há inúmeros temas que podem ser abordados em uma pesquisa. Dei um exemplo que compreende a minha área de formação e atuação, mas, certamente, coisas do dia a dia, riquíssimas, podem ser (e de fato são!) exploradas em pesquisas.

É preciso, por fim, ver a pesquisa como intrínseca e próxima à vida, que desperta a curiosidade e a busca por explicações mais aprofundadas. Estas explicações não precisam surgir e serem respondidas só ao final da graduação, mas podem e devem ser exploradas e rascunhadas desde o princípio da formação universitária, como algo próprio do ato de estudar e de conhecer o mundo.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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