Estudar é uma maratona
Alguns alunos às vezes me perguntam qual o segredo para conseguir um rendimento escolar satisfatório. O conceito de satisfatório é muito relativo, porém, eu costumo dizer que em matéria de estudos não existem muitos segredos, sendo que disciplina e boas amizades costumam acompanhar uma boa vida estudantil.
É comum saber de alunos que ao final do bimestre tiram notas baixas e que ao final do ano ficam retidos. É comum saber que todo professor, do início ao fim do ano, aconselhou os seus alunos a estabelecerem uma rotina diária de estudos. E é igualmente comum saber que apenas às vésperas das avaliações boa parte dos estudantes dedicaram alguns momentos para revisar os conteúdos. A tática desesperada de deixar as coisas para em cima da hora pouco adianta, seja no que tange à educação, seja no que tange à vida em geral.
Certa vez eu estava explicando a alguns universitários um texto da filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) intitulado “A crise na educação”, quando percebi que alguns alunos estavam aéreos e outros, quando se manifestavam, pouco diziam acerca do texto em questão. Incomodado, resolvi perguntar:
- Quem aqui leu o texto que deixei disponível há mais de um mês?
Para a minha tristeza, apenas uma aluna levantou a mão. Nesse tipo de situação costumo dizer que o professor deixa de ensinar para fazer mágica. A contrapartida para o ensino, que, claro, não é um ato só do professor, é a aprendizagem, mas, para que esta exista é preciso que o estudante faça a parte dele, ou seja, estude, faça a “lição de casa”. É preciso saber que um professor só não faz verão, e, mesmo que sejam vários professores, estes não conseguirão fazer verão, pois nada substitui o esforço individual do estudante.
Diante do desolador cenário de explicar um texto que apenas uma aluna leu, me veio à mente um conselho que pode ser útil: a vida e, claro, a educação formal, é como uma maratona. E por que a imagem da maratona? Porque esta não é superada em dois ou três minutos e nem sem uma longa preparação. O atleta possui uma rotina constante para atingir o seu objetivo, que é o de superar os mais de 42 quilômetros de percurso (em termos exatos: 42.195 metros). Para tanto, é necessário um verdadeiro cuidado do corpo e da mente.
Em continuação à ideia trazida no parágrafo anterior, estudar é uma maratona, sendo que é necessário que o estudante estabeleça uma rotina diária de estudos, por mais simples que esta seja. É melhor que a pessoa estude 30 minutos por dia do que deixar para estudar 10 horas um dia antes das avaliações. 30 minutos ao longo de um mês se convertem em várias horas e, ainda que as 10 horas disponíveis do dia anterior à prova surjam, para quem não tem hábito de estudos, esse tempo não será bem aproveitado: a pessoa provavelmente não saberá como estudar por 10 horas.
Logo se vê que o exemplo da maratona e o da rotina diária dizem respeito à disciplina trazida nas primeiras linhas desse texto. Quanto às boas amizades, convém resgatar uma das possíveis origens da palavra amigo, do latim “amicus”, que, por sua vez, derivaria de animi (alma) e custas (custódia), cujo significado final seria “guardador de alma”. Alma, além do aspecto religioso existente, de ligação com Deus ou com algo sobrenatural, também está relacionado ao intelecto. Um bom amigo, assim, e sem fazer desse texto um discurso moralista, torna-se aquele que permite um diálogo rico e cheio de futuro.
Quem inicia uma longa jornada de estudos, como é o caso de uma graduação, precisa de conversas ricas, que façam com que a formação esteja muito além dos bancos escolares: isso é riqueza. E quem inicia essa longa jornada precisa acreditar que esta tem sentido e importância e que, mais cedo ou mais tarde, sob muita disciplina, tudo dará certo: futuro.
Dr. Felipe Figueira
Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.