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Sétima Arte - Casa Gucci


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 25/11/2021
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Se tem uma coisa que o público adora é assistir de camarote a vida privada dos ricos. Isso pode ser visto em reality shows, ou mesmo em séries que buscam aproximar os pobres mortais do cotidiano daqueles que foram imortalizados pela fama. Um bom exemplo disso é a recém lançada série Sandy + Chef que estreou no streaming HBO Max. Ao que tudo indica, ver pessoas ricas em situações vivenciadas por todas as pessoas comuns gera um prazer estranho, mas que entretém muito bem. Digo isso porque até eu gastei um tempinho para ver a multitalentosa Sandy realizar uma tarefa que eu faço quase todos os dias, cozinhar. Se o cotidiano dos ricos e famosos chama atenção, imagine quando esse cotidiano vem recheado de tragédia! O cinema é muito consciente disso e por isso investe forte nesse tipo de cinebiografia alavancada por um crime. A estreia dessa semana segue essa linha de bastidores da vida dos ricos e famosos, uma história real que mais parece uma novela mexicana projetada na tela grande. Sobre Casa Gucci você vai ficar muito bem informado.

No mês passado, o consagrado diretor Ridley Scott lançou um filme nos cinemas que passou praticamente despercebido. Intitulado O Último Duelo, essa obra ostentava um grande elenco e estava ambientado na Idade Média Francesa. Apresentando uma narrativa de traição e vingança, o filme reunia elementos suficientes para alcançar um razoável sucesso, mas foi um estrondoso fracasso. Tanto que você provavelmente nem ouviu falar, pois ele não caiu no gosto do público e muito menos da crítica. Algo difícil de acreditar, já que Ridley Scott é amplamente conhecido pelos famosos blockbusters que dirige e produz.

Agora, passados pouco mais de um mês, Ridley Scott lança seu segundo filme de 2021 no cinema, com a expectativa de quebrar o estigma deixado pelo fracasso de sua obra anterior. Muito mais popular e com um elenco igualmente estrelado, Casa Gucci tem dois trunfos a seu favor. O primeiro é o fato de contar uma história verídica sobre uma tragédia ocorrida no seio da família mais rica e famosa do mundo da moda, já o segundo trunfo é a presença da mother monsterLady Gaga no elenco (o apelido mother monster foi dado a ela pelos fãs após o lançamento do álbum musical Born This Way que versava sobre empoderamento e amor próprio).

Vamos comentar sobre o primeiro trunfo. Como indicado na introdução, não há quem resista aos bastidores da vida dos ricos e poderosos e quando isso vem acompanhado de algo como um assassinato, acaba se tornando mais interessante ainda. Esse tipo de história é uma receita certa para um grande sucesso. Veja por exemplo a repercussão que teve a série American Crime StoryO Assassinato de Gianni Versace que apresenta uma história com várias semelhanças a essa de Casa Gucci e teve cada episódio devorado pelo público. Dessa forma, entrar na intimidade da lendária Casa Gucci já é por si só um grande chamariz.

Baseado no livro Casa Gucci: Uma História de Glamour, Ganância, Loucura e Morte, escrito por Sara Gay Forden, o roteiro foi escrito por Becky Johnston e Roberto Bentivegna e é a grande pedra de tropeço do filme. E convenhamos, não é uma pedra de tropeço por causa de seu ritmo ou do desenvolvimento da trama ao longo de suas quase três horas de filme, mas sim por conta de seus diálogos rasos. Didático, o roteiro constrói bem os personagens e desenvolve de forma muito clara as intenções e os caminhos trilhados pela protagonista. Mas, quando o público estiver ávido por um diálogo intenso e natural o que encontrará será uma previsibilidade sem igual, arrastada por um sotaque italiano inacreditável. Algo que seria um problema sério, caso Ridley Scott não tivesse dado uma aura camp para seu filme.

Falando em aura camp, esse termo voltou à moda justamente por causa do filme em questão. Camp é um estilo estético que denota a ideia de exagero, de teatralidade, de algo artificial mas feito de maneira intencional. Você perceberá muito disso nos personagens centrais de Casa Gucci e se considerar essa questão acabará ignorando os problemas dos diálogos impostos pelo roteiro.

Já sobre o segundo trunfo, desde que as primeiras imagens desse filme foram divulgadas mostrando Lady Gaga morena e com um penteado no melhor estilo laquê, os fãs estiveram e permanecem enlouquecidos. Essa super expectativa rendeu inúmeras especulações e, depois que o filme foi apresentado oficialmente para a impressa, há algumas semanas, isso tudo só piorou. Ou seja, bom ou ruim uma multidão de gente já garantiu sua entrada para ver o filme, fato que lhe trará sucesso de bilheteria de uma forma ou de outra.

Importante destacar que Lady Gaga não é única grande estrela do filme, ela fará par romântico com Adam Driver (que também estava no fracasso recente de Ridley Scott no cinema). Além dele estão no elenco Al Pacino, Jeremy Irons e o brilhante Jared Leto, que em sua interpretação leva o conceito camp ao extremo. Se Leto é o pleno exagero em cena, Pacino e Iron são muito mais comedidos. Já Lady Gaga, arrastando o sotaque italiano em seu inglês nato, equilibra todo o maneirismo de sua interpretação em seu contraponto amoroso, Adam Driver, que tem uma atuação muito mais discreta, mas bastante expressiva.

Sobre as questões técnicas os destaques vão para o trabalho de fotografia e de figurino. O primeiro constrói verdadeiras obras de arte quando associado à trilha sonora adorável e singular. Planos abertos destacando as luxuosas propriedades Gucci são um deleite para a visão de qualquer um. Já o segundo, o figurino, é sem dúvida um dos possíveis concorrentes para Oscar dessa categoria no próximo ano, pois é impecável e vale a pena ser visto com calma para se aproveitar cada detalhe. Vamos à trama!

A história acompanha a vida de Patrizia Reggiani, ex-mulher de Maurizio Gucci, membro da família fundadora da marca italiana Gucci entre as décadas de 1970 e 1990. Em tela estarão quase 3 décadas de amor, traição, decadência, vingança e assassinato, tendo início no romance dos sonhos e passando pelas maquinações para assumir o controle da poderosa empresa do mundo da moda, até chegar em seu trágico final.

Por que ver esse filme? Porque é divertido. Sua trama, por mais dramática que aparente ser, é contada como se fosse uma verdadeira novela mexicana, ou seja, um dramalhão. Porque é apaixonante acompanhar o esforço da protagonista em se desvencilhar de sua vida medíocre para se tornar uma verdadeira Gucci. Porque ilustra como o mundo patriarcal capitalista dos podres de ricos é injusto e ultrapassado. Porque mostra que ter dinheiro nem sempre é sinônimo de capacidade. E, por fim, porque por mais que, possivelmente, não agrade aos críticos, irá agradar com certeza ao público em geral. Isso porque é uma história simples, com elementos que o público gosta e está acostumado. Boa sessão!

Assista ao trailer:

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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