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Sétima Arte - Green Book: O Guia


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 07/08/2020
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Parece que os efeitos da pandemia, finalmente, estão sendo sentidos de forma mais contundente no mundo do streaming. Por esses dias não houve nenhum lançamento de obra inédita de peso, até mesmo a Netflix que mantinha um ritmo de estreias e lançamentos acelerados em tempos de reclusão social diminuiu o seu fluxo. Bem por isso, outras plataformas estão ganhando espaço e, dentre elas, uma que comentei aqui na Coluna Sétima Arte recentemente, o Prime Video da Amazon. Com um preço extremamente acessível, ela caiu no gosto do público que já demonstra cansaço do estilo Neflix em tempos em que todos estão ficando mais em casa. Muitos tem elogiado e adorado as grandes produções ostentadas pela Amazon.

Diante dessa escassez de novidade, o que me resta é indicar para esse fim de semana um filme excelente que está disponível no Prime Video. Esse é aquele tipo de obra que vale a pena assistir com mais calma e atenção, mesmo que você já tenha visto anteriormente. Hoje eu revisito minha crítica a Green Book: O Guia, um drama de primeira e um grande sucesso. 

Esse filme chegou aos cinemas em janeiro de 2019, em plena corrida pelo Oscar, disputando público com produções que tinham ou um apelo extremamente popular, ou uma pegada altamente Cult, dentre eles Creed II e A Favorita (bons tempos esses em que tínhamos tantas escolhas no cinema). Por causa dessa grande concorrência, muita gente acabou não assistindo a Green Book na telona e depois se arrependeu, já que ele foi o grande campeão do Oscar nesse ano. De suas cinco indicações ele levou três, o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original e o disputadíssimo Oscar de Melhor Filme.  Agora, você tem a chance de poder assisti-lo no conforto do seu lar, por isso eu quero chamar atenção sobre alguns aspectos que indicam que esse filme é uma excelente escolha.

Green Book: O Guia é um roadmovie divertido e emocionante, no melhor estilo do clássico Conduzindo Miss Daisy, de 1989 (que já passou várias vezes na TV aberta, impossível que alguém com mais de trinta anos não tenha visto). Se você já viu essa obra, que conquistou merecidamente o Oscar de Melhor Filme em 1990, vai perceber uma grande similaridade entre os dois. Mas, diferente do primeiro, Green Book: O Guia é um tipo de cinebiografia, por isso também é baseado em fatos. Além disso, ele inverte os papeis centrais, pois o filme de 1989 tem um negro como chofer de uma senhora branca, no filme em questão é o inverso e só essa premissa de subversão já faz o filme valer a pena.

A trama se passa no ano de 1962, uma época difícil para qualquer afrodescendente que precisasse viajar pelo Sul dos Estados Unidos da América (quem assistiu recentemente a segunda temporada de The Umbrella Academy, da Netflix, que estreou sexta passada, viu essa mesma temática através da ótica da personagem Allison, pois é o mesmo contexto). O preconceito e a segregação nessa época e nessa região eram tamanhos que o risco de morte, linchamento ou algo parecido era constante e iminente. Por causa desse conflito racial/histórico/social, um carteiro chamado Victor Hugo Green cria um livro com uma lista de restaurantes e hotéis que aceitavam afrodescendentes. O livro era conhecido como Green Book e é daí que vem o título do filme.

Com um Green Book para ajudá-lo, o brucutu ítalo-americano Tony Lip, interpretado por um irreconhecível e gordo Viggo Mortensen (o Aragorn de O Senhor dos Anéis), aceita o trabalho de ser motorista do mundialmente famoso pianista negro Dr. Don Shirley, papel de Mahershala Ali, que levou um Oscar por essa atuação, e sai em turnê com ele. Durante a viagem os dois vencem seus preconceitos, evoluem e criam uma amizade improvável, um vínculo que cresce à medida que eles ganham a estrada.

A meu ver, o que mais chama a atenção nessa trama é sua intensa capacidade de demonstrar como as pessoas são capazes de mudar, até mesmo aquelas que aparentemente são mais cabeças duras. De maneira muito humana e respeitosa, o filme apresenta o que há de melhor nas pessoas, fazendo com que elas sejam valorizadas para além de suas características de raça, origem ou sexualidade. Uma história inteligente capaz de tocar profundamente o público em seus pontos mais sensíveis.

Diante de tudo isso, a maior surpresa fica por conta da direção. Peter Farrelly, um diretor conhecido pelo público por suas comédias famosas, mas altamente irrelevantes, como Débi e Lóide ou Quem Vai Ficar com Mary? fez história ao entregar ao público e à crítica uma obra prima. Uma história pesada, com alto teor racista (e, por que não, até homofóbico) mas que subverte a ordem das coisas, colocando o negro como patrão e o branco como subordinado. Farrely apresenta um filme para pensar, mas que diverte na mesma medida. Mais do que uma história que deve ser apreciada, essa é uma verdadeira lição de vida que deve ser vista e revista. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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