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Kraven, o Caçador e Mufasa: Rei Leão


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 19/12/2024
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Chegamos às vésperas do final do ano e à última edição da Coluna Sétima Arte de 2024. Porém, é justamente quando as férias chegam que o cinema resolve oferecer mais opções para o público. Por isso, na edição desta semana, quero (conforme prometido) comentar sobre a recepção do público e da crítica ao novo filme do Aranhaverso, sem o Homem-Aranha, da Sony, além de falar sobre Mufasa, o live-action da Disney que promete ser a grande sensação deste Natal.

 Vamos começar com Kraven, o Caçador! Confesso que é a curiosidade e não a expectativa o que move a mim e, acredito, grande parte do público a ver esse filme — quem já enfrentou Morbius e saiu vivo sabe que o universo dos vilões do Homem-Aranha da Sony é, digamos, imprevisível. Mas, embora este não seja um desastre completo, também não dá para dizer que Kraven acertou em cheio. É como se o filme tivesse potencial para ser algo grande, mas tropeçasse no próprio peso, como um caçador cansado antes de disparar a flecha.

 Aaron Taylor-Johnson, no papel do protagonista Sergei Kravinoff, se entrega ao personagem com vontade. É impossível não reconhecer o esforço do ator, especialmente nas cenas que exploram a ligação quase selvagem do protagonista com a natureza. São nesses momentos que o filme tenta capturar algo especial: a relação de Kraven com a fauna e a flora e com a câmera, mostrando animais e paisagens que ajudam a nos lembrar de quem ele é. Pena que no restante do tempo o roteiro dá voltas e mais voltas sem realmente chegar a lugar nenhum.

 O núcleo familiar, que poderia ser um ponto forte, acaba mal explorado. Fred Hechinger tenta trazer nuances a Dmitri, o irmão mais novo de Sergei, enquanto Russell Crowe (sempre um grande nome!) luta para dar alguma relevância ao patriarca mafioso. Infelizmente, seu personagem não passa de um clichê ambulante. Mesmo quando a trama tenta mergulhar nos dramas familiares, a sensação é de que estamos vendo algo raso, quase automático.

 Se o filme tem um brilho especial, ele aparece na violência crua das cenas de ação. Aqui, Kraven não economiza: há sangue, tensão e uma energia visceral que casa bem com o personagem. Mas, como o roteiro não decide o que é importante para a trama (a origem do herói, os dilemas familiares, o papel de justiceiro e até personagens como o Rinoceronte), nada tem o tempo necessário para realmente brilhar. Tudo rápido e sem profundidade.

 A parte mais frustrante é, sem dúvidas, a origem dos poderes de Sergei. Há uma tentativa de misturar elementos místicos, criando um mix de tarô e referências à cultura africana, mas tudo parece forçado, como uma receita onde os ingredientes simplesmente não combinam. É uma pena, porque essa ideia tinha potencial para enriquecer o universo do personagem.

 E sobre os efeitos especiais… ah, Sony. Quando será que vocês vão nos surpreender positivamente? O CGI de Kraven não chega a ser um desastre completo, mas está longe de impressionar. Em tempos de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, que elevou o padrão dos filmes desse gênero, fica difícil aceitar algo tão genérico visualmente.

 O público, aliás, parece ter concordado com isso. Com uma nota “C” no CinemaScore e apenas 14% de aprovação no Rotten Tomatoes, Kraven não conseguiu agradar nem os fãs mais dedicados. É o tipo de filme que tenta muito, mas entrega pouco e, no atual mercado saturado de super-heróis, isso simplesmente não é o suficiente.

 Porém, eu não vou negar que o filme tem lá seus méritos. Há boas intenções, especialmente na tentativa de explorar o lado selvagem do personagem e na atuação dedicada de Taylor-Johnson. Se você é fã do universo de Homem-Aranha, principalmente nas HQs, e está disposto a relevar as falhas, talvez encontre aqui uma experiência divertida. Só não espere sair do cinema encantado.

 Agora, se tem outro filme que pretende fazer o caminho inverso de Kraven, o Caçador é Mufasa. Isso porque o universo de O Rei Leão tende a instigar a imaginação de muita gente que cresceu assistindo repetidas vezes a animação de 1994! Voltar à savana é sempre um prazer, especialmente quando o foco é Mufasa, o rei cuja história parecia um mistério até agora. Dirigido por Barry Jenkins, Mufasa: Rei Leão tenta mostrar como um pequeno filhote se tornou o soberano que inspira tanta admiração nos fãs da obra original.

 Barry Jenkins é um diretor que sabe tocar corações, e aqui ele abraça um pouco mais da fantasia do que vimos no remake de 2019. Os leões sorriem, demonstram afeto e ganham um pouco da magia que tanto sentimos falta na abordagem mais realista realizada por Jon Favreau. Contudo, o CGI ainda enfrenta suas limitações. Por mais que o filme tente nos convencer, ver leões cantando ainda causa aquele estranhamento básico, e não é por falta de esforço.

 A narrativa é estruturada como uma fábula contada por Rafiki à jovem Kiara, filha de Simba. Esse toque de tradição oral africana é um dos pontos altos, dando um charme especial e uma sensação de que estamos ouvindo uma antiga lenda passada de geração em geração. No entanto, à medida que a trama se aproxima dos eventos de O Rei Leão, o frescor inicial vai se perdendo, e a história começa a tropeçar em escolhas previsíveis.

 O coração do filme é a relação entre Mufasa e Taka, mais conhecido por nós como Scar. Os dois irmãos têm uma dinâmica interessante, repleta de amor, inveja e rivalidade. Mas, infelizmente, o filme acelera os conflitos mais intensos, transformando o que poderia ser uma tragédia profunda em algo mais raso do que o esperado. A motivação para a grande virada de Taka é tão trivial que chega a decepcionar, parece que os roteiristas andam meio preguiçosos ultimamente.

 Musicalmente, Lin-Manuel Miranda presenteia o público com canções cheias de energia, que resgatam um pouco do espírito da Disney de antigamente. Mas, mesmo com trilhas envolventes, o filme luta contra o peso visual do CGI, que às vezes parece mais impressionante do que emocionalmente envolvente.

 Sobre as paisagens, como esperado, elas são um espetáculo à parte! A fotografia do filme captura a grandiosidade da savana africana, mas, ironicamente, a câmera se afasta justamente nos momentos em que mais precisamos de conexão. Parece que a preocupação em ser visualmente deslumbrante roubou muito da alma da história.

 Ainda assim, há pequenos momentos que aquecem o coração, especialmente para os fãs. Referências ao filme original aparecem aqui e ali, como doces surpresas para quem conhece a franquia de trás para frente. É o tipo de detalhe que faz você sorrir e pensar: “Ah, eu lembro disso!”

 Por que ver esse filme? Porque, caso você já tenha visto “Ainda Estou Aqui”, Mufasa se apresenta como o filme mais interessante para o feriado prolongado de Natal. No fim das contas, Mufasa: Rei Leão é como uma jornada pela savana em um dia nublado. Há momentos de luz, mas o sol nunca brilha completamente. É uma produção que agrada, especialmente aos fãs mais fiéis, mas não chega a se tornar inesquecível. Ainda assim, é sempre bom revisitar esse mundo onde o ciclo da vida nos convida a sonhar – mesmo que, desta vez, o sonho não seja tão grandioso quanto esperávamos. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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