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A dívida de Paulo


Por: Fernando Razente
Data: 28/11/2022
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Romanos 1.14-15: “Pois sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma.”

 

Na semana passada analisamos o versículo 13, onde Paulo declarou que desejava ir a Roma colher frutos espirituais e que havia feito planos para conseguir ir, mas que por alguns impedimentos, ele ainda não tinha conseguido chegar à capital do Império. Apesar disso, Paulo manteve um desejo insistente de ir e para explicar esse desejo, o apóstolo começa o seu texto seguinte com uma conjunção coordenativa — o “pois” — para relacionar o que disse antes com o que dirá agora.

Ele tinha sido impedido, mas desejava muito os resultados espirituais de seu evangelismo, de modo que não podia retroceder de sua missão apesar das circunstâncias, “pois…”; e então, no início do versículo 14, Paulo apresenta a razão: “[...] sou devedor”. Era essa consciência de dívida que fazia Paulo insistir em tentar ir para Roma. Mas, em que sentido Paulo é um devedor? O que Paulo deve e a quem Paulo deve?

A palavra para devedor no grego é “opheiletés” (?φειλ?της, ου, ?), um substantivo com pelo menos dois sentidos. O primeiro sentido diz respeito a alguém que está em dívida com alguém por algo que fez ou que deixou de fazer. Por exemplo: um homem que deve R$100,00 a outro, ou alguém que ofendeu ao seu próximo e não fez reparação ética ou ainda aquele de quem Deus pode exigir a punição como algo devido pelos seus pecados morais. Porém, nenhum desses exemplos se encaixa na situação de Paulo.

O segundo sentido de “opheiletés” diz respeito a alguém mantido por alguma obrigação, vinculado a algum dever, de modo que o dever tem mais haver com uma uma tarefa que é imprescindível realizar. É neste sentido que Paulo diz ser um devedor. Ele, enquanto apóstolo, está debaixo de uma obrigação colocada por Cristo de pregar o evangelho a todas as nações.

Em 1 Coríntios 9.16-17, Paulo ecoa este mesmo princípio, isto é, que sua tarefa de evangelização é encarada como uma obrigação e responsabilidade: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada.” É neste sentido que Paulo se declara um devedor.

Dito isso, agora cabe-nos a seguinte questão: quem Paulo deve a pregação do evangelho de Cristo? A resposta é: “[...] tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes;”. As categorias que Paulo utiliza aqui englobam todo o mundo gentílico da época. A distinção entre sábios e ignorantes é mais clara para nós; mas e quanto a gregos e bárbaros? São categorias diferentes da narrativa paulina? Não. Na verdade, trata-se de uma estilística na retórica de Paulo chamada sinonímia, isto é, o emprego de palavra ou expressão a seguir a outra de significado afim, para matizar, aclarar ou ampliar seu sentido.

Os gregos — especialmente os gregos helenísticos após a expansão de sua cultura por meio de Alexandre, o Grande — eram considerados como os mais “sábios” do mundo antigo. Eles se orgulhavam de serem os mais racionais e inteligentes da época. Por isso, para eles o resto do mundo estava na categoria de “bárbaros”. O termo grego “bárbaro” vem de βαρβαρ?ομαι, que pode ser traduzido por “não inteligível”. É um termo onomatopeico, reproduzindo o “ba-ba-ba” da linguagem estrangeira, ou infantil, que parecia incompreensível e, por isso, detestável ao homem grego daquela época.

Com isso, Paulo está dizendo que a obrigação e o dever que ele tem de realizar a pregação do evangelho de Cristo tem como alvo toda a classe gentílica, não importando quem ou que tipo de pessoa, a despeito até mesmo de como as mesmas venham a se tratar. Afinal, o evangelho é o mesmo e é para todos. Como disse Francis Schaeffer: “Por mais complicados, instruídos ou sofisticados que sejamos, ou por mais simples que possamos ser, todos nós precisamos chegar, do mesmo modo, quando se trata se tornar-se cristão.” (2021, p. 11), ou seja, pela palavra de Cristo (Rm 10.17).

Ciente disso, Paulo se sente pronto, entusiasmado, preparado pela graça de Deus para cumprir seu chamado, sua obrigação — sua dívida como ele diz —  e anunciar o evangelho, as boas novas de Deus entre todos os gentios, quer sejam sábios ou ignorantes, mas especialmente em Roma, seu objetivo naquele momento, como ele mesmo conclui: “[...] por isso, quanto está em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma.” (v.15).

Na semana que vem, se Deus permitir, veremos porque Paulo não se envergonha de anunciar o evangelho (Rm 1.16).

Até a próxima.

Que Deus te abençoe!

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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