Infinito mesmo, só o tamanho das coisas
Há algum tempo venho tentando escrever sobre o amor. Confesso que tenho me dedicado, mas o assunto sempre me escapa. Coincidências? Como já nos disse o grande Ariano Suassuna através do majestoso Chicó:
— Não sei, só sei que foi assim.
Dentro da minha incapacidade temporária de falar sobre o amor, talvez pela sua grandeza, me perdi dentro de outra amplitude: a medição.
As medidas sempre me encantam. Por exemplo, em um quilômetro, há metros, nos metros, centímetros, nos centímetros... Os litros se “cubificam”, e eu, na minha discalculia[1] não dou conta de dizer o que “litros cúbicos” significam.
E quanto a medida de massa? Toneladas, arrobas, gramas, quilogramas, decigramas...
Nessa toada quase interminável, as coisas andam, e para chegar ao infinito delas, primeiro me envolvo num questionamento:
? Sempre dá pra mensurar o tamanho das coisas, as pedras, por exemplo?
Por falar em pedra, meu marido é quase um rochólogo, está no antepenúltimo semestre de geologia na Universidade Federal de Roraima – UFRR. As pedras, nada preciosas, lhe encantam. Foi em um dia de encantamento que me vi olhando para uma fotografia microscópica: a lâmina de uma pedra. Perdão, rocha.
Rocha vista a luz do microscópio petrográfico |
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Fonte: Leandro Scapin |
Ele se delicia naquele instrumento que permite ver corpos extremamente pequenos. E tenta me fazer entender as escalas de observação: há uma lente que amplia o tamanho em 10 vezes. Há outra que aumenta em até 63. Essa matemática é simples: 10 x 63 = 630.
No microscópio óptico, chega-se a esse número máximo.
? Já cresceu bastante, né? Agora se a gente levar para o eletrônico... Eu, com minha tosca matemática, não consigo mensurar e concluo de maneira simplória:
? Sempre tem algo menor dentro do extremamente pequeno.
Já que eu cheguei ao imensurável, trago uma reflexão do pastor Berlofa[2] que , ao se referir à multiplicação dos pães e peixes, afirma que o exato nem sempre foi exato:
— Naquela época, os números eram símbolos e representavam um “período de tempo”. É só pensarmos na “quarentena”. Os cinco pães e dois peixes são sete elementos. Sete, o número perfeito, relacionado ao que é impossível de mensurar. [3]
Minha intenção não é escrever uma crônica religiosa, apenas dizer que os números, às vezes, não são suficientes para dimensionar o tamanho.
Meu colega e cumpadi Nunes, professor de matemática da escola em que trabalho, definindo para mim os números exatos, disse:
Entendo que um número é chamado de exato quando ele tem uma quantidade finita de dígitos.
Os alimentos “multiplicados” pelo nazareno, não podem ter no exato “sete” a sua finitude. Tampouco se deve contabilizar a quantidade de perdão dado a alguém.
Infinito mesmo, com ou sem fé, é o tamanho das coisas.
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Errata
Na crônica anterior a essa “Deixando a infância de lado”, equivocadamente coloquei Freud como tendo nacionalidade inglesa. Na verdade, ele nasceu em Morávia, República Tcheca, mudando posteriormente para a Áustria.
[1] Discalculia, ...trata-se de uma desordem neurológica que afeta as habilidades de compreender e manipular números. Disponível em: https://sites.usp.br/grepel/discalculia/ .
[2] João Paulo Berlofa é seu nome completo. É antifundamentalista, teólogo, filósofo, escritor, casado e pai. Autor do livro: O Negro Nazareno. Faz análises interessantes sobre as histórias e contextos bíblicos.
[3] Disponível em: https://youtu.be/bdrzJKB-Ge0?si=kpBhOIi47IECjF1m .