O Branco manchou o preto da pele de Maria

O Branco manchou o preto da pele de Maria
mas o cabelo preso debaixo do lenço
colocava a pequena mulher em seu ‘devido lugar’
Adormecia sob as folhas de licuri
erguida nas terras daquele que deixava
levantar as paredes de taipa
O colchão forrado com chita
recebia seu corpo cansado
os olhos não viam as estrelas
Importante era matar a fome
O capim seco que recebia a canseira de Maria
revidava
espetando seu corpo
furando sua alma
A manhã chegaria em breve
breve seria o descanso da noite
não tardaria
o sol despontaria ao Leste
trazendo a dor das manhãs
-Maria, adjutório na casa de farinha de seu Zé Mota!
Quer fosse pela estrada
quer cortasse caminho pelas plantações de mandioca
o destino seria o mesmo
Um braço forte a puxaria
e seu corpo judiado pelo capim
agora também seria espetado
pelo dono da casa em que morava
ou do caminho por onde passava
a cabeça antes com lenço adornada
era agora descoberta
certificavam-se que era a mulher certa
para a satisfação desenfreada
os homens que por ela entrava
Ao longe o marido espreitava
esperava
a casa onde se abrigava
ser paga

