A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Violência, Terror e Fundamentalismo em Tempos Pandêmicos


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 19/08/2021
  • Compartilhar:

Ainda mal saímos do terror imposto pelo período de pandemia da Covid-19 e passamos a nos defrontar ou reencontrar outras faces de terror e violência, expressos no retorno do grupo radical e fundamentalista islâmico talibã ao poder no Afeganistão. As imagens de pessoas buscando a qualquer custo fugir da violência fundamentalista religiosa e política, deixou bem claro os ecos do terrorismo, tanto praticado por Estados quanto por grupos radicais como neste caso. Não podemos negar que em tempos pandêmicos, o terror ao Coronavírus reflete nosso medo aos fundamentalismos e terrorismos de qualquer tipo.

O retorno do Talibã nos faz recordar da cultura da violência em que vivemos e com ela, a abertura de espaço para o cultivo e expressão do fundamentalismo. Como adverte o sociólogo Octavio Ianni: “Desde o sequestro e o narcotráfico à violência urbana e ao terrorismo de Estado, desde os conflitos étnicos e religiosos a destruição criativa, são muitas as formas de violência que se manifestam nas sociedades contemporâneas” (2004, p. 167). Esta cultura da violência o terrorismo desestabiliza o que parecia estável, quieto e calmo. Instala-se o medo, a aflição e o terror. Violência, Terror e Fundamentalismo que se apresentam enquanto uma tríade marcante em um mundo globalizado, que embasado no neoliberalismo e na noção de progresso, percebe quão próximos estamos da barbárie e o tamanho de nossa fragilidade, assim como acontece com o surgimento de uma pandemia que atingiu as bases sociais, políticas e econômicas de forma global.

O fundamentalismo ou as suas diferentes e diversas faces, sustenta-se sob o mito levado ao extremo do povo eleito ou predestinado, segundo Ianni: “À realização da missão civilizatória, com a qual se levará aos outros povos e nações a democracia, a liberdade, a justiça, o bem, a prosperidade, a abundância, o paraíso e a lucratividade. A despeito das adversidades, desvios, malefícios e resistências, com os quais outros povos e nações se manifestam. Tudo isso impregnado pelas ideias de bem e mal, pecado, castigo e redenção, ou Armagedon e Civilização (2004, p.273). Neste ponto, os fundamentalismos e terrorismos de grupos e Estados se assemelham, pois de acordo com Ianni: “Quem são os autos eleitos emissários de Deus que forjam tanta violência? São homens com doutrinas, homens de fé e idealismo, homens que confundem poder com virtude, que não deixam de ser seres humanos, com preferencias normais pelo trabalho, o divertimento e a família, mas se tornam personificações, anseios e vida de alguma fé e ideologia” (2004, p. 273).

Esta situação põe em risco a adversidade e a alteridade, que se tornam ameaças e sua presença passa a ser intolerável, devendo ser inclusive exterminadas.  O episódio do Talibã demonstra que em meio a uma pandemia temos que lidar com pandemônios como o do terrorismo e da violência do fundamentalismo político ou religioso, que assim como o Coronavírus, ameaça a nossa respiração por uma vida saudável e bem vivida. A vacina contra a violência, o terrorismo e o fundamentalismo, passa pela prática ao respeito e reconhecimento da diversidade e a expressão da alteridade, que devem ser vistas como positivas e não como negativas ou ameaçadoras.

IANNI, O. Capitalismo, violência e terrorismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

    

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.