Ao trabalhar este novo texto, para exposição de ideias, nos encontramos em pleno carnaval. A folia momesca, de forma direta ou indireta, se faz presente em nosso quotidiano. Para os que se envolvem diretamente com as atividades carnavalescas, há um sentimento que pode ser percebido, conjugado a exacerbação da folia: o sentimento de recomeço. Mas como assim recomeçar?  A partir de qual aspecto? Penso que partindo do desejo de romper com o que aconteceu e mesmo com o que está acontecendo, entendido e vivido como fases ou momentos negativos, além de muito sofridos, utilizando a folia carnavalesca, como forma de ruptura com tudo aquilo que não se deseja mais presente ou se busca deixar passar.

Vejamos que de um modo mais concreto, neste carnaval de 2023, busca-se romper com a experiência da pandemia do Covid-19, que por sinal praticamente proibiu o carnaval nos últimos dois anos. Romper com um momento político, social e econômico, percebido como mais negativo, desejando que após a folia momesca, haja um novo recomeço, mais alegre e positivo, tanto no sentido pessoal quanto coletivo.

A folia carnavalesca, permite que se possa romper, através do samba, da fantasia e da alegria, com experiências e situações passadas ou atuais que nos entristeçam, aborreçam e nos mortifiquem, nos possibilitando pensar e almejar novos recomeços que sejam mais ricos, ativos e criativos. Um recomeçar positivo, alegre e rico em potência de vida, a partir da folia.

Não se trata aqui de apologia a pura ilusão ou a irresponsabilidade de ser e existir, mas sim perceber e fazer com esforço, um recomeçar construtivo, após a folia passar. Não por acaso, depois de toda a agitação do carnaval acabar, temos a famosa Quarta-Feira de Cinzas, que traz em si uma noção de renovação e de recomeçar, sem se deixar iludir pela mera fantasia de se acomodar e fugir da realidade em que se existe e que se vive.