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O Senhor de Paulo


Por: Fernando Razente
Data: 09/05/2022
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Rm 1. 1(c)“de Jesus Cristo”

 

No artigo da semana passada vimos o apóstolo Paulo identificando-se substancialmente como um escravo, o que era — no mínimo — estranho aos seus destinatários originais, dada a completa aversão que havia contra essa posição social naqueles tempos e especialmente na gloriosa e pujante Roma. Todavia, Paulo usava o termo escravo para delinear a sua relação espiritual com Cristo e não uma relação com qualquer senhor de escravos e em quaisquer termos de associação; e essa diferença é fundamental!

Embora Paulo identifique-se na carta como “qualquer escravo” [doulos em seu sentido mais lato], ele não identifica-se como escravo de qualquer senhor. Conforme lembrou R. C. Sproul, “Nas Escrituras, essa ideia de doulos está sempre ligada a outra palavra descritiva: kyrios [senhor].” (2011. p. 12). Por isso, é imprescindível nos questionar: quem é o senhor de Paulo? O autor especifica ao leitor no item gramatical seguinte quem é o seu senhor: “...de Jesus Cristo” (Rm 1.1c).

Aqui podemos perceber que Paulo não era escravo de um senhor carrasco e abusador, como eram os possessores do mundo greco-romano. O Senhor de Paulo era Jesus Cristo! Antes de falarmos sobre a obra de Cristo enquanto kyrios, falemos um pouco a respeito de seus gloriosos nomes. Em primeiro lugar, é importante lembrar que no mundo antigo    e ainda entre algumas famílias    quando os pais davam nomes aos seus filhos, buscavam representar no nome a missão de vida de seus herdeiros.

O casal José e Maria, os pais terrenos de Jesus, foram orientados pelo anjo a dar ao menino o nome de “Jesus” (I?sou/?ησο?) que é a transliteração do termo hebraico Yehoshua que significa “Javé salva” ou “Javé é salvação” (Mt 1.18-25). Por que o anjo orientou este nome? A resposta está no versículo 21 de Mateus 1: “[...] porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.” (Mt 1.21). Ou seja, o nome de Jesus não era uma escolha arbitrária dos pais, mas simbolizava a missão daquela criança.

Como comentou John MacArthur, o significado do nome de Jesus “[...] expressa a obra redentora de Jesus na terra.” (2019. p. 355). E essa é a primeira informação que temos a respeito do senhor de Paulo a partir dessa parte “c” do verso 1 de Romanos 1: Jesus era um homem real, judeu, filho de um casal judeu, com a missão de levar a salvação ao povo de Deus, livrando os eleitos de seus pecados.

Em segundo lugar, Jesus também é chamado de Cristo: “Christou” (Χριστο?). Trata-se de um epíteto, uma qualificação da pessoa de Jesus. De fato, Cristo não é um nome, mas uma confisão de fé; uma declaração a respeito da pessoa de Jesus, de quem crê que Sua pessoa histórica e real não foi apenas um carpinteiro judeu ou um bom professor de moral em Israel, mas foi (e é) o tão aguardado Rei de Israel, prometido a muito tempo por Deus para restaurar o seu Reino.

O título técnico que se dava a esse Rei prometido no Antigo Testamento era Messias (mashiach/????????), um termo hebraico equivalente ao termo grego Cristo que significa simplesmente “o Ungido”. Conforme MacArthur, esse termo era usado “[...] para se referir a profetas (1 Rs 19.16), sacerdotes (Lv 4:5,16) e reis (1 Sm 24:6,10), no sentido de que todos eles eram ungidos com óleo. Essa unção simbolizava uma dedicação divina ao ministério. Jesus Cristo, como o Ungido, seria o Profeta, Sacerdote e Rei supremo (Is 61.1; Jo 3.34). Com sua confissão dramática, ‘Tu és o Cristo [Ungido], o Filho do Deus vivo’ (Mt 16.16), Pedro declarou sua fé em Jesus como o prometido Messias.” (2019. p. 355).

Potanto, unindo as duas coisas chegamos a conclusão de que o Senhor de Paulo era: um judeu, nascido da virgem Maria, concebido pelo poder do Espírito Santo, consagrado a Deus como aquele que haveria de salvar os eleitos de seus pecados, exercendo de forma completa, perfeita e definitiva os ofícios de Rei Supremo, Sacerdote para sempre e Profeta do Senhor.

O que mais podemos falar sobre o Senhor de Paulo? Diferente dos antigos senhores perversos e carrascos, esse Senhor Jesus reina com cetro de misericórdia e graça! O Senhor de Paulo deu a vida por ele, entregando-se para sofrer a morte humilhante e agonizante da cruz a fim de libertá-lo do domínio do pecado: “[...] qual me amou, e Se entregou a Si mesmo por mim” (Gálatas 2:20).

O Senhor de Paulo comprou-o para uma vida nova e santa, mas não com dinheiro perecível como se Paulo fosse um objeto de uso comum e substituível, mas com sangue real, puro e precioso, dando prova de amor incomensurável: “[...] sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1 Pedro 1.18). 

Portanto, é “Deste [glorioso] Cristo Jesus [que] Paulo é servo, completamente entregue a seu Senhor” (HENDRIKSEN, 2001. p. 52). A expressão de autoidentificação paulina em Romanos — “servo” — jamais pode ser dissociada do substantivo “Jesus Cristo”, descrevendo ao mesmo tempo a obrigação de um criado humilde e o senhorio de um Senhor mui amoroso, misericordioso e doce.

Sendo assim, chamar-se de “escravo de Jesus Cristo” de modo nenhum era vergonhoso para Paulo, antes, era assim que ele se identificava alegremente e via nisso uma credencial de seu verdadeiro ministério. É como se ele dissesse aos romanos: “Quem vos escreve é uma mera ferramenta, mas uma ferramenta em posse e à disposição do mais habilidoso, sábio e justo construtor: Jesus”.

Desta forma, “[...] a sua finalidade em denominar-se ‘servo de Jesus Cristo’ foi afirmar, no princípio de sua carta, a inteireza de sua comissão e de sua dedicação a Cristo Jesus como Senhor. [...] ele era apenas servo de Cristo.” (MURRAY, 2003. p. 30). Ao lerem essas primeiras palavras de Paulo, os cristãos de Roma deveriam reconhecer uma credencial legítima de um cristão sincero. É verdade que a igreja de Roma precisava lidar com os falsos mestres que eram marcados pela cobiça; mestres que gostavam de exercer proeminência e serem considerados senhores e governadores do povo de Deus, abusando de seus ministérios de líderes da igreja com vistas a satisfazerem seus próprios interesses mesquinhos por poder, lucro, fama e louvores humanos.

Porém Paulo, ao se declarar escravo de Jesus Cristo, quer evidenciar aos romanos sua diferença dos falsos mestres, tanto de posição [Paulo era servo/os falsos mestres eram dominadores] quanto de interesse [Paulo queria servir/os falsos mestres queriam ser servidos] para com a igreja. Na próxima semana, se Deus quiser, veremos a próxima credencial de Paulo.

Até a próxima! Kyrios Iesous

 

 

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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