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O Antigo Testamento: Abraão, o pai de multidões


Por: Fernando Razente
Data: 09/06/2025
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“Abrão já não será o teu nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí.”

– Gênesis 17:5

 

“Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se. (...) Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, Eu Sou.”

 – Jesus, Evangelho de João, capítulo 8, v. 56,58.

 

Abrão era filho de Tera, descendente de Sem, filho de Noé. Conforme o relato bíblico, “Tera gerou a Abrão, a Naor e a Harã; e Harã gerou a Ló” (Gênesis 11.27). Abrão nasceu em Ur dos Caldeus, no sul da Mesopotâmia, onde se casou com Sarai, sua meia-irmã (cf. Gênesis 20.12). Em determinado momento, Tera resolveu migrar com sua família em direção à terra de Canaã, mas fixaram residência em Padã-Harã, no norte da Mesopotâmia. O texto diz: “Tomou Tera a Abrão, seu filho, e a Ló, filho de Harã... e saíram juntos de Ur dos Caldeus para irem à terra de Canaã; foram até Harã, onde ficaram” (Gênesis 11.31).

Foi em Harã que Deus apareceu a Abrão, chamando-o a deixar sua terra, sua parentela e a casa de seu pai. A promessa divina era grandiosa: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção... em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12.1–3). Aos 75 anos, Abrão obedeceu prontamente: “Partiu, pois, Abrão, como lhe ordenara o Senhor...” (Gênesis 12.4).

Na terra de Canaã, Abrão passou pelo Neguebe, enfrentou batalhas para tomar posse de terras e recebeu de Deus a promessa de uma descendência tão numerosa quanto as estrelas: “Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Assim será a tua posteridade” (Gênesis 15.5). Contudo, antes do cumprimento da promessa, Abrão cedeu à incredulidade e, com o consentimento de Sarai, uniu-se à serva egípcia Hagar, que concebeu e deu à luz a Ismael (cf. Gênesis 16.1–4).

Deus, porém, dispensou sua gaça incondicional e reafirmou sua aliança com Abrão,  mudando seu nome para Abraão, que significa “pai de multidões”: “Já não será o teu nome Abrão, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí” (Gênesis 17.5). Também mudou o nome de Sarai para Sara, e prometeu que dela nasceria um filho: “Disse também Deus a Abraão: A Sarai, tua mulher, já não lhe chamarás Sarai, porém Sara. Abençoá-la-ei e dela te darei um filho... reis de povos procederão dela” (Gênesis 17.15–16).

Nesse contexto, Deus instituiu a circuncisão como sinal da aliança: “Esta é a minha aliança que guardareis entre mim e vós... Todo macho entre vós será circuncidado... aos oito dias será circuncidado todo macho entre vós, nas vossas gerações” (Gênesis 17.10–12).

Conforme prometido, Deus visitou Sara, e ela concebeu e deu à luz a Isaque: “Visitou o Senhor a Sara, como lhe dissera, e o Senhor cumpriu o que lhe havia prometido... e concebeu Sara e deu a Abraão um filho na sua velhice” (Gênesis 21.1–2). Mais tarde, Deus submeteu Abraão a uma prova extrema, pedindo que oferecesse Isaque em sacrifício: “Toma agora teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto...” (Gênesis 22.2). No momento final, o Senhor proveu um substituto: “Mas o anjo do Senhor... disse: Não estendas a mão sobre o rapaz... Então levantou Abraão os olhos e viu um carneiro... e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho” (Gênesis 22.11–13). Esse episódio tipifica o sacrifício substitutivo de Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, que morreu no lugar dos eleitos (cf. João 1.29).

Após a morte de Sara aos 127 anos, sepultada em Macpela, Abraão providenciou uma esposa para Isaque e, mais tarde, casou-se com Quetura, com quem teve outros seis filhos (cf. Gênesis 25.1–4). Abraão morreu aos 175 anos: “Expirou Abraão e morreu em boa velhice, avançado em anos, e foi reunido ao seu povo” (Gênesis 25.8).

A história de Abraão nos oferece profundas aplicações teológicas no contexto do Novo Pacto em Cristo. Primeiramente, Abraão é exaltado como o pai da fé, pois sua justificação não se deu por obras da lei, mas por crer nas promessas de Deus: “E creu Abrão no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gênesis 15.6). O apóstolo Paulo explica que essa verdade não se limitava a Abraão, mas se estende a todos os que creem: “Sabem, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão” (Gálatas 3.7). Assim, aprendemos que a salvação, desde o Antigo Testamento, sempre foi pela graça mediante a fé, e nunca por méritos humanos.

Além disso, o nascimento de Isaque é interpretado como símbolo do agir soberano de Deus. Ele é chamado de “filho da promessa” (Gálatas 4.28), em contraste com Ismael, que nasceu da carne. Isso ensina que os verdadeiros filhos de Deus não são os que nascem apenas segundo critérios naturais ou étnicos, mas os que nascem segundo a promessa, pela intervenção graciosa de Deus. Em Cristo, todos os crentes — judeus ou gentios — são contados como descendência espiritual de Abraão e herdeiros das promessas (cf. Romanos 9.6–8).

Outra aplicação importante diz respeito ao sinal da aliança. A circuncisão, instituída em Gênesis 17, era um sinal externo da aliança de Deus com Abraão e seus descendentes. No entanto, no Novo Testamento, esse sinal é substituído pelo batismo, como selo da justiça da fé. Paulo afirma: “E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso” (Romanos 4.11), e ensina que “em Cristo fostes também circuncidados... tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo” (Colossenses 2.11–12). O batismo, portanto, é o sinal do Novo Pacto, que como a circuncisão, testifica a inclusão do pecador na aliança com Deus.

Por fim, toda a história de Abraão encontra seu clímax em Jesus Cristo. A promessa feita a ele — “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12.3) — é cumprida no descendente por excelência, que é Cristo: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente... e ao teu descendente, que é Cristo” (Gálatas 3.16). Isso significa que toda bênção espiritual, toda promessa de redenção, toda esperança da vida eterna converge em Jesus.

Ou seja, a fé de Abraão antecipa a fé cristã, e sua obediência é sombra da obediência perfeita do Filho de Deus, que não apenas se dispôs a entregar seu Filho, mas entregou a si mesmo em nosso lugar. Portanto, os crentes hoje, ao confiarem em Cristo, são enxertados na mesma fé de Abraão, feitos herdeiros das promessas e membros do povo da aliança. Abraão não é apenas uma figura histórica, mas uma referência da justificação pela fé, do nascimento espiritual em Deus e da esperança cumprida em Jesus.

 

 

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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