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“Não estou entendendo nada!”


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 19/01/2023
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É comum estudantes dizerem a frase “Não estou entendendo nada!” diante de uma aula de filosofia, química, matemática, física ou biologia. Em outras matérias, claro, os alunos também repetem o jargão acima, todavia, ele costuma ser mais comum em algumas disciplinas do que em outras. Em História, raramente um aluno do ensino médio diz que não entendeu nada sobre Egito ou sobre a Segunda Guerra Mundial (se realmente entenderam o conteúdo, aí já é outra história). Porém, quando estou a explicar para os alunos da licenciatura em Química determinados conceitos de Freud, com frequência escuto que eles são muito difíceis.

        Alguns alunos desanimam facilmente diante das constantes dificuldades escolares, outros até as veem como um estímulo. O que acontece, entretanto, é que toda disciplina traz em si uma nova linguagem, um novo idioma para aprender. Isso é um desafio! Boa parte das pessoas sabe, a título de exemplificação, o que significa H2O (água), mas uma quantidade ínfima sabe o que é NaCl (cloreto de sódio).

        Quando iniciamos o estudo de um idioma, o inglês, por exemplo, parece ser impossível entender as palavras, quanto mais formar frases. Ouvir uma música? Eis uma tarefa extremamente complexa, seja por causa do idioma em si, seja porque o ouvinte se concentra (ou se perde) na melodia e o conteúdo da letra vai embora da atenção.

        Quando fiz intercâmbio na Nova Zelândia, os primeiros dias foram terríveis, pareciam que alguém tinha tampado meus ouvidos (eu não entendia nada!) e apertado minha garganta (eu quase não conseguia falar!). Porém, aos poucos, mas sem adquirir fluência (o 100%), o idioma foi se abrindo para mim. É de palavra em palavra que o idioma se dá, e, depois, de frase em frase e assim sucessivamente. O 100% é uma utopia, mesmo nativos da língua inglesa não dominam por completo os rigores desse idioma. Quem no Brasil entenderia tudo da língua portuguesa? Ninguém!

        Aprendido um novo conteúdo, ou qualquer assunto no geral, o que resta a fazer? Tudo! Praticar, praticar, praticar, ler, ouvir, conversar, etc. A experiência ensina que tudo que é aprendido também pode ser perdido.

        Em face dos exemplos do NaCl e do estudo de um idioma, é possível concluir (!) que ninguém aprende nada do dia para a noite, como se algo simplesmente “caísse do céu”. Há um ditado que diz que “noventa e nove por cento é transpiração e só um é inspiração”. Quem começa uma maratona, aqui entendida enquanto um estudo, começa com pequenos passos. Sair da inércia, do estágio inicial, é das tarefas mais difíceis, mas, uma vez que houve um movimento, as coisas andam com mais facilidade. Portanto: que ninguém desanime facilmente!

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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