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Mas é seu parente...


Por: Rhuana Moura Pacheco
Data: 29/08/2023
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Nas últimas semanas, o caso da atriz Larissa Manoela tomou notoriedade pela exposição feita à relação entre pais e filha, associado a riquezas e à independência da garota. Dentre tantas pautas, uma se levanta e me chama atenção há tempos: a romantização das relações parentais.

Romantizar é criar uma fantasia descritiva que não faz jus à realidade e que pode ser criada em justificativa às expectativas culturais e sociais nas quais baseamos nossa sociedade e valores. Neste caso, romantizar as relações parentais ou familiares, é fantasiar ou se espelhar em relações bem-vistas socialmente ou esperadas pelos demais, anulando as relações reais.

Sabe aquele parente que te gera incômodo, seja por ter havido algo, por falta de intimidade ou até mesmo por alguma característica que não condiz com os seus gostos? Pois bem, geralmente, espera-se que haja um relacionamento “forçado” para que a aparência familiar não seja prejudicada. É preciso que você não se importe de conviver ainda que desconfortável, afinal, “é seu parente”, “seu pai vai ficar chateado”, “só cumprimenta, seja educado”, entre outras falas que reforçam essa pressão social.  

Em contrapartida, encontramo-nos com os sentimentos do indivíduo: o que impossibilita que esse relacionamento aconteça de maneira recíproca? O que o outro gera na pessoa em questão que a impede de uma aproximação? É algo simples? Algo complexo? Algo que gera sofrimento? Eu sei realmente até que ponto forçar essa relação não gera danos? Essas perguntas devem ser feitas em diversas situações, a famosa empatia precisa ser aplicada ainda que em relacionamentos familiares.

Retornando ao caso introdutório desse texto, o problema realmente foi ter exposto os pais em rede nacional no Dia dos Pais ou o maior problema é admitir que nem todos os pais têm um relacionamento saudável com seus filhos? É verificar que nem todos as famílias são iguais e se enquadram em um padrão esperado? É compreender que existem, sim, pais narcisistas e abusivos, pais que erram, filhos que erram, entre outras possibilidades não esperadas?

Não existe uma obrigatoriedade nas relações, sejam elas de qualquer âmbito. É preciso abrir os olhos e a mente para ver e compreender as relações como cíclicas, ou seja, passíveis de mudanças e, também, olhá-las com cuidado. Cabe destacar, como uma informação adicional e importante que, a maioria dos casos de abuso infanto-juvenil acontecem dentro das famílias com pessoas que se aproximam das crianças com a desculpa de serem parentes e de serem pessoas aos quais é necessário obediência e confiança.

Aqui podemos ainda viajar por diversos outros temas que se irradiam deste, como por exemplo a visualização da criança como indivíduo que sente e tem vontades; e que é anulada grande parte das vezes pois, para muitos, é mais fácil forçá-la a receber um beijo de um conhecido, do que o responsável se indispor com um colega adulto ou não suprir a educação que é solicitada pela sociedade, influenciando totalmente na construção da individualidade e crescimento maturacional infantil. É viável para quem essa relação? Para criança ou para o reforço da autoridade dos pais? E sobre esta autoridade: quando ela deixa de ser necessária e passa a ser abusiva?

Todas essas reflexões são necessárias para que passemos a desromantizar expectativas sociais e comecemos a valorizar o outro, seja ele amigo, filho, pais, enfim... indivíduo.  Ainda caberiam muitas outras discussões aqui, mas por hora, a psi encerra e deixa com que vocês elaborem outras conclusões.

Rhuana Moura Pacheco

Habla mesmo, psi


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