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Em tudo isso eu era feliz


Por: Luciano Rocha Guimarães
Data: 12/05/2022
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A felicidade, ao contrário do que alguns pensam, pode estar nas pequenas coisas. Vou exemplificar.                       

A CASA DA VOVÓ

Ela tinha muitos quartos, cinco se me lembro. Possuía duas salas, uma de tv e outra de jantar. Uma varanda que dava para a rua, depois de subir uma longa escada. O terraço à frente era palco de alegria da meninada no futebol. Todos os domingos reunia a família para o almoço. A cozinheira, d. Ana, preparava a refeição típica de domingo: macarronada, frango ensopado com caldinho, arroz branco, tutu de feijão e angu. Achava engraçado ter angu. É que todos os dias tinha angu na casa da vovó, inclusive domingo. Os adultos sentavam na mesa e as crianças na mesinha de vidro na varanda. Meu avô servia a todos. Ele tinha um jeito engraçado de colocar sua comida no prato. Tudo bem arrumadinho. Cada coisa tinha um lugar. Depois do almoço comia sobremesa: goiabada com queijo e doce de leite. Assim eram os nossos domingos pela manhã. E em tudo isso, era feliz!

A CARROÇA DE LEITE

Eu a escutava de longe. Era inconfundível o ruído da carroça. O trote marcado do cavalo nas ruas de pedra. O som da buzina do senhor Sebastião. Ele era o leiteiro. Trazia todos os dia leite fresquinho da vaca em uma grande vasilha de latão. Era um velho negro muito simpático que vinha da roça. Eu, menino ainda, esperava com uma certa ansiedade sua visita. Quando sua buzina ecoava, descia as escadas da casa de minha avó com um litro de vidro vazio nas mãos para o Sebastião encher. Confesso que o leite não me interessava muito, mas sim as suas estórias. Por várias vezes, subia as escadas comigo e se assentava no alpendre da varanda para me contar estórias de assombração na roça. Era fascinante. O mundo da criança é o mundo da fantasia que o Sebastião alimentava como ninguém. Houve um tempo em que a vida era mais simples, por isso mais bela. Houve um tempo em que ouvíamos estórias de alguém que tinha tempo para compartilhá-las até com as crianças. E em tudo isso eu era feliz!

A CADEIRA NA CALÇADA

Ao cair da tarde ele colocava sua cadeira em frente da casa. Gostava de observar a rua, as pessoas, o pouco movimento dos carros, o entardecer, o crepúsculo. Fazia isso todos os dias. Enquanto isso, brincávamos no passeio largo de brincadeiras de criança. Devagarinho, os vizinhos chegavam com suas cadeiras em busca de uma boa história e companhia. Quando escurecia, ele se levantava e se despedia dos amigos. Entrava em casa. Acendia o seu charuto que exalava um aroma peculiar. Que cheiro bom! Corríamos para o banho contrariados. Criança gosta mesmo é de brincar. Sentava-se na mesma cadeira, agora diante da TV. Hora do jornal. Fazíamos um silêncio hospitalar. Na hora de dormir beijávamos a sua mão e pedíamos a sua bênção: bença vô! Deus te abençoe meu neto. E em tudo isso, eu era feliz!

Luciano Rocha Guimarães


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