A generic square placeholder image with rounded corners in a figure.


Do meu avô para o mundo


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 06/10/2020
  • Compartilhar:

Para ir direto ao ponto: em que medida a minha história de vida se confunde com a minha criação intelectual? Eis uma pergunta que surgiu aparentemente sem explicação e que criou força em mim.

O filósofo que mais ocupou o meu tempo e as minhas reflexões foi Nietzsche. Eu o estudei de forma sistemática entre 2005 e 2017, o que me rendeu uma dissertação e uma tese. Nietzsche era conhecido por ser um filósofo errante, que especialmente após se aposentar na Universidade de Basileia passou a viajar pela Europa. 

Logo após concluir o doutorado li o clássico “Dom Quixote”. O cavaleiro andante é um personagem viajante, que não se contentou em ficar em um só lugar. Sob a companhia de Sancho e de Rocinanante, o engenhoso fidalgo explorou o mundo.

Em 2015 eu passei a viajar por vários estados brasileiros e a partir de 2016 fui para o exterior. Em 2020, ano que escrevo este artigo, já conheço vinte e cinco países e vários estados brasileiros, entre eles, Roraima e Rio Grande do Sul.

A partir de 2018 vieram os primeiros livros: “Nietzsche e o eruditismo” e “Entre médicos e imigrantes”. Em 2020 vieram outros dois: “Travessias” e “Dom Quixote”. O segundo e o terceiro livros abordam a imigração forçada dos venezuelanos. O primeiro trata do filósofo alemão e o último é uma interpretação livre do livro de Cervantes. Eu posso dizer, livremente, que a minha criação é um trabalho andante, até porque eu costumo escrever em vários lugares: andando, no carro, no trabalho, em um banco qualquer e, claro, na minha escrivaninha e também na mesa da cozinha.

Porém, uma outra questão surgiu, mais de ordem genealógica: de onde veio o meu gosto por viagens? Lembrei-me da minha mãe, que desde que eu era criança ela me levava na garupa da bicicleta por toda Paranavaí. Nada era mais legal do que esse programa. Além da bicicleta, a cada um ou dois meses ela também me levava a Maringá, a livrarias, sebos e ao zoológico que existia no Parque do Ingá.

Mas, mais antigo ainda do que as minhas voltas com a minha mãe e com a minha família (meu pai sempre foi mais caseiro), sempre ficou na minha memória as aventuras do meu avô materno, o Waldemar, também conhecido por Nico.

Meu avô trabalhou na Camargo Corrêa e ajudou na construção, ainda nas origens, das usinas de Foz do Iguaçu, Angra, Tucuruí, Ilha Solteira, dentre outras. Eu sempre ouvia a minha mãe falar de forma nostálgica de tais aventuras e do quão privilegiada ela se sentia por conhecer o Brasil. Talvez, lá no fundo (ou não tão no fundo), meus interesses intelectuais, que sempre perpassaram temas e autores andantes, tenham ligação com o meu avô e com a minha mãe. Tudo se interliga.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


Anuncie com Jornal Noroeste
A caption for the above image.


Veja Também


smartphone

Acesse o melhor conteúdo jornalístico da região através do seu dispositivos, tablets, celulares e televisores.