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Cabras da Peste


Por: Odailson Volpe de Abreu
Data: 25/03/2021
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Filmes nacionais, sobretudo os mais regionalistas, despertam no brasileiro sentimentos opostos, indo do amor ao ódio dependendo de quem assiste. Eu falo por experiência própria, pois até pouco tempo eu tinha um certo receio dos filmes brasileiros, na época, a meu ver, todos tinham sempre um tom de comédia pastelão. Mas com o passar do tempo e com as recentes variações do cinema nacional eu mudei completamente de ideia. Isso se deu principalmente porque no atual cenário cultural brasileiro, onde não há incentivo algum por parte do governo para a cultura, assistir a filmes nacionais se tornou praticamente um ato de subversão. Por isso eu digo, assista e apoie o cinema nacional!

Tendo isso ficado bem claro, quero comentar na edição dessa semana sobre o mais novo sucesso brasileiro da Netflix, Cabras da Peste. O filme estreou há  duas semanas e segue firme no ranking das dez obras mais assistidas no país. Cabras da Peste é um filme interessante, pois aparentemente é um emaranhado de clichês e mesmo assim tem um ar de novidade. Tudo o que está lá já foi feito antes no mundo do cinema, mas nunca feito de maneira tão abrasileirada, ou melhor, de maneira tão nordestina. O Nordeste, sobretudo o Ceará, é um celeiro de bons humoristas. A história do entretenimento no Brasil reafirma isso com nomes de peso como o saudoso Chico Anysio, o eterno “Didi” Renato Aragão ou mesmo Tom Cavalcante. Mas recentemente um novo nome tem chamado a atenção nessa categoria, Edmilson Filho.

Ele é o ator de peso por trás do filme em questão. Figura conhecida tanto no cinema quanta na TV devido ao seu hilário Cine Holiúdy, ele é mestre num tipo de humor bem tupiniquim, o humor de autorreferência. Isso faz de Cabras da Peste o filme brasileiro mais interessante já produzido e lançado pela Netflix. Por quê? Porque não foi feito para exportação, isso mesmo, ele foi feito para ser consumido por brasileiros, que estão acostumados a rirem de si mesmos, da vida pacata e cotidiana do interior, das situações cômicas do dia a dia das cidades pequenas e daquelas figuras singulares que encontramos numa esquina ou outra.

O mais interessante é que esse tipo de humor de autorreferência foi inserido num filme com um gênero exportado à exaustão por Hollywood, o Buddy Cop (esse é um gênero de entretenimento com tramas envolvendo duas pessoas de personalidades muito diferentes, que são forçadas a trabalharem juntas para solucionar um crime ou para derrotar criminosos). Todos nós temos boas referências desse tipo de filme, afinal, crescemos assistindo quina Mortífera, A Hora do Rush, Bad Boys e vários outros. O cinema brasileiro já havia investido nesse gênero antes, mas tudo ainda muito formatado no estilo americano, por isso Cabras da Peste, sem dúvidas, inova por inserir esse gênero num contexto completamente diferente e bastante envolvente.

O diretor Vitor Brandt fez um ótimo trabalho ao manter o ritmo do filme e o interesse do público entre as várias piadas que são destiladas ao longo da trama. Mesmo que o gênero comédia seja facilmente atrelado ao Buddy Cop não é fácil fazer isso de forma abrasileirada sem cair na mesmice. Em parte, isso funciona mais devido ao roteiro desenvolvido por Brandt juntamente com Denis Nielsen, que mesclam a história central com um visual bucólico e ótimas sequencias de luta que, diga-se de passagem, são muito bem coreografadas e emocionantes. Além disso, o roteiro desenvolve muito bem o personagem do protagonista, o que é excelente, já que vários roteiros brasileiros pecam nesse quesito. Por outro lado, as falhas também existem e elas estão explícitas na pressa que o roteiro apresenta em resolver algumas situações que poderiam ser mais bem trabalhadas. Mas no final isso nem é problema, pois como o filme foca na comédia e no absurdo tudo passa a ser aceitável de uma forma ou de outra.

Sobre o elenco, quem brilha mais forte é Edmilson Filho e seu companheiro de Cine Holiúdy, Matheus Nachtergaele. A dupla improvável se complementa e apresentam juntos muita desenvoltura e um ótimo timming para fazer rir. Junto com eles um elenco de comediantes de várias gerações desfila ao longo do filme, dentre eles ganham destaque Falcão, Leandro Ramos, Letícia Lima e Evelyn Castro. Sem falar na cabra, que dá um show de atuação (risos). Vamos à trama!

Cabras da Peste traz a história do cearense Bruceuilis (isso já é uma sátira aos filmes de ação) e do paulista Trindade, dois policiais totalmente incompatíveis que são forçados a trabalharem juntos para resgatar Celestina, uma cabra que é considerada o patrimônio do município. Durante a investigação, os dois descobrem que o sumiço do animal está interligado com as ações criminosas de Luva Branca, o maior alvo da polícia de São Paulo. Juntos, Bruceuilis e Trindade precisarão desmascarar a quadrilha comandada pelo traficante de entorpecentes e mostrar que ainda são policiais de verdade.

Por que ver esse filme? Porque é um filme extremamente despretensioso e que dá muito certo. Tanto o diretor, quanto os atores sabem que não estão fazendo nada novo e por isso se divertem entre uma piada ou outra rindo de si mesmos e dos clichês do gênero. Um filme leve, agradável e com atuações divertidas e competentes. Excelente para fugir desse clima pesado e fúnebre que a segunda onda de COVID-19 tem imposto nesses últimos dias. Aproveite o fim de semana, assista e dê um pouco de risadas. Boa sessão!

Odailson Volpe de Abreu

Odailson Volpe de Abreu


Anuncie com Jornal Noroeste
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