Banco dos réus versus Banco escolar
Banco dos réus versus Banco escolar
Vejo com desconfiança quem coloca a escola brasileira no banco dos réus, pois a sociedade brasileira possui um déficit de escolaridade histórico. Não custa lembrar que até o século XX a educação básica não era para todos, e que universidades são um fenômeno recente em nossa história.
Ao ler alguns textos e alguns autores (não nominarei, porque nominar aqui é reduzir), dá a impressão de que a escola é uma erva daninha e que merece estar no banco dos réus. Que a escola possui uma série de erros, isso soa como um truísmo, mas daí a caracterizá-la como um problema é extremo. Nos termos de Jan Masschelein e Maarten Simons: “Nós nos recusamos, firmemente, a endossar a condenação da escola. Ao contrário, defendemos a sua absolvição. Acreditamos que é exatamente hoje – numa época em que muitos condenam a escola como desajeitada frente à realidade moderna e outros até mesmo parecem querer abandoná-la completamente – que o que a escola é e o que ela faz se torna claro. Também esperamos deixar claro que muitas alegações contra a escola são motivadas por um antigo medo e até mesmo ódio contra uma de suas características radicais, porém essencial: a de que a escola oferece “tempo livre” e transforma o conhecimento e as habilidades em “bens comuns”, e, portanto, tem o potencial para dar a todos, independentemente de antecedentes, talento natural ou aptidão, o tempo e o espaço para sair de seu ambiente conhecido, para se superar e renovar (e, portanto, mudar de forma imprevisível) o mundo.” (2019, p. 10).
Ainda falta ao Brasil, apesar dos esforços recentes, um processo forte, sólido, de escolarização e de democratização dos saberes. Se a escola for colocada no banco dos réus é capaz que seja condenada a uma pena maior sendo ela ainda menor. A pena da escola brasileira não é a mesma que a da europeia. Nós, brasileiros, somos adolescentes.
Para ser didático: é preciso que a escola atinja um nível tal de maturidade (Qual? Não é possível determinar objetivamente) para que daí, sim, exista a desconstrução de certas estruturas. É claro que a desconstrução construtiva é possível, mas é preciso sempre trazer alertas em prol da escola, e isso para que ela não seja vista de antemão enquanto uma vilã. A sociedade precisa de escolas, mormente uma sociedade cheia de desigualdades como a brasileira, então é melhor a promoção de um banco escolar do que um banco dos réus.
Jan Masschelein & Maarten Simons. Em defesa da escola: uma questão pública. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2019.