As bênçãos santificadoras do Evangelho
Na semana passada, vimos que o efeito de pertencer a Cristo (Rm 1.6) é a santidade de vida (Rm 1.7). É da vontade de Deus que aqueles que foram chamados para serem servos de Jesus, sejam também puros em todo procedimento. Todavia, essa pureza cristã não é alcançada pelo braço da carne humana, mas pelo Espírito Santo através do derramamento das bênçãos espirituais e santificadoras do evangelho.
Nesta parte do versículo 7, Paulo realiza exatamente essa imprecação das bênçãos advindas do evangelho que prega, pois Paulo não somente crê que seus destinatários foram chamados a uma vida separada para Deus, mas também compreende a necessidade das bençãos santificadoras para alcançar tal vida.
Por isso, Paulo escreve nesta parte demonstrando seu desejo diante de Deus de que os cristãos de Roma recebam “graça” e “paz” da parte de Deus. Como “graça” e “paz” são bênçãos que nos levam a uma vida em santidade? O que Paulo está dizendo com esses termos? Vejamos.
Dado o contexto já analisado de que Paulo fala a crentes, o sentido de graça [charis] bem como o de paz [eir?n?], não é de bençãos salvadoras, mas santificadoras. A primeira palavra — graça — deve ser interpretada como favores imerecidos de Deus para com seu povo, para que eles fossem cada vez mais firmados na fé, tivessem cada vez mais compreensão do amor de Deus e fossem cada vez mais habilitados pelo Espírito Santo a serem conformados à imagem de Jesus Cristo.
A graça aqui é o poder sustentador de Deus que permite que a pessoa salva continue fiel e firme na vida cristã. Na Teologia Reformada, existem os chamados meios de graça, isto é, meios que Deus usa providencialmente para nos firmar na caminhada, como o ensino da Palavra, o batismo, a ceia do Senhor e a oração. São formas e meios que Deus confere sua graça para fortalecer seu povo na vida em santidade.
A segunda palavra — paz — também deve ser compreendida no sentido de benção santificadora. Há dois sentidos para o termo paz na Bíblia. Existe a 1) “paz de Deus” e a 2) “paz com Deus”. A “paz com Deus” é a graça que recebemos como fruto da justificação pela fé em Cristo. Quando somos declarados justos por Deus mediante a fé em Cristo, o efeito é termos paz com Ele, como um efeito da justificação no nosso coração (Rm 5.1). A justificação comunica à nossa consciência de que Deus não está mais irado conosco, e não há mais nada que nos distancie d’Ele. A justiça do seu Filho nos concede paz com Deus.
Por outro lado, a “paz de Deus” é uma benção espiritual dada pelo Espírito Santo, da qual somente os crentes desfrutam (João 14.27) em meio a perseguições, desafios e lutas na caminhada da santificação. É um sentimento de tranquilidade, resiliência, paciência e esperança que advém da convicção de que Deus, o Pai, é Soberano sobre tudo e todas as coisas e que Ele age através de sua Providência, usando até mesmo meios dolorosos e tristes para nos ensinar coisas para nossa edificação pessoal que não seriam possíveis de outra forma (Rm 8.28).
Esse é o sentido das palavras “graça” e “paz” que Paulo deseja aos romanos, e são essas as riquezas espirituais que advém do evangelho glorioso de nosso Senhor Jesus: uma graça fiel para nos sustentar na caminhada e uma paz acima de todo entendimento para nos ajudar a resistir humildemente as tribulações da vida e compreender que elas estão sob o controle de Deus.
Na semana que vem, se Deus quiser, veremos a procedência dessas bênçãos santificadores.
Até a próxima!
Que Deus te abençoe.
Fernando Razente
Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.