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A violência é totalmente dispensável?


Por: Fernando Razente
Data: 28/12/2018
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Sentença: “A principal afirmação, tomada pelos pacifistas, é que a guerra sempre causa mais mal do que bem. Vejamos se isso é verdade.” – C.S. Lewis in Por que não sou Pacifista (Ensaio publicado na obra: Ética para Viver Melhor, p.17.)

Estamos a três dias do início de um novo ano. Creio ser oportuno neste momento olharmos para trás afim de refletir sobre um dos temas mais influentes do debate público do país: Segurança Pública. Antes mesmo de colocar minha posição, quero que os leitores entendam que estou lançando um texto de um tema específico a uma população especificamente sentimental, e por isso invoco a genialidade de Lewis antes de darmos continuidade. Para pensarmos sobre a segurança pública e seus meandros não precisamos de achismos ou sentimentalismos, mas uma sólida razão. 

Em Ética para Viver Melhor, uma coleção de 24 ensaios de Clive Staples Lewis, o autor versa sobre temas críticos. Um deles é sobre o pacifismo, tema caro à segurança pública de qualquer país. A sua explicação ou sua apologia à uma violência legitima é tão convincente quanto a conceitualização da guerra de São Tomás de Aquino, que dizia estar com o Estado a incumbência de defender a sociedade de inimigos com a espada. Em seu ensaio “Por que não sou Pacifista”, Lewis oferece exemplos históricos e argumentos lógicos de como, em casos específicos, a violência não é só moralmente correta, mas indispensável para o progresso do bem maior. Acima de tudo, Lewis fornece a chave para refletir sobre o tema. E é isso que desejo que meu leitor se concentre antes de irmos adiante.

 Lewis entende que é preciso abandonar as confusas vozes dos sentimentos e refletir friamente sobre os princípios ocultos, seja do pacifismo, seja da violência. Dificilmente, na nossa sociedade sentimental, um pacifista consegue entender os benefícios e até mesmo a gritante necessidade de uma nova interpretação e prática da violência. Por conta desse culto ao sentimento, os piegas não mergulham mais fundo além da superfície do ato para ir até as implicações morais que estão por trás das ações violentas. Pensar sobre isso requer racionalidade. Para quem deseja saber mais sobre romantismo e cultura sentimental que nos afeta indico a leitura do livro “Podres de Mimados – As consequências do sentimentalismo tóxico” do psiquiatra Theodore Dalrymple. Dito isso, pensemos sobre segurança pública. 

Este tema aparece no cenário político brasileiro atual com tamanha importância que foi o responsável por levar um deputado solitário, de um tímido partido (PSL), ganhar grande adesão popular até chegar à cadeira de Presidente da República. É evidente que, segurança pública é apenas um termo técnico. O interessante é estudar e compreender as várias facetas dela e suas ações que se mostram no cotidiano. Não teremos tempo e espaço – tampouco tenho a pretensão – de abordar aqui cada uma delas. Existem obras no mercado para os interessados. Mas, que possamos escolher uma em específico para analisar: a questão da violência.

A OMS, define violência como “o uso intencional de força física ou poder, ameaçados ou reais, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resultem ou tenham grande probabilidade de resultar em ferimento, morte, dano psicológico, mal-desenvolvimento ou privação". Ao que tudo indica, o olhar geral interpretativo sobre a violência não é um tema fechado, apesar de que no Brasil, nas últimas décadas, a palavra violência foi demonizada de tal forma que é quase impossível pensar positivamente sobre ela e não ser taxado de fascista ou qualquer outro termo desconexo de seu sentido histórico e real. O próprio presidente Jair Bolsonaro, ainda no período de pleito, foi fortemente taxado como “fascista”, “ditador”, “homofóbico”, “infrator dos direitos humanos”, “cruel” e até mesmo “novo Hitler”. O que levou seus opositores se dirigirem desta maneira a Bolsonaro foi exatamente por causa da sua abordagem rara - e fortemente estranha às massas emocionalistas – da violência. 

Assim como Bolsonaro, não tenho restrições emocionais para ver na violência muita utilidade. Pergunto-me: será mesmo que a violência é essencialmente imoral?  Creio, firmemente, que não! A violência, em muitos casos, é a única solução. 

Em situações de risco, onde o pai de família precisa proteger os seus da ameaça evidente de um assaltante, entendo que violência serve como defesa das crianças e da mulher. Em outra situação onde um bandido faz de refém uma senhora de idade com uma pistola apontada para a cabeça da vítima indefesa, acredito que a violência policial é imperativa para salvar a inocente. Em um caso onde revoltosos se lançam contra o Estado, depredando e destruindo patrimônios públicos é forçoso que aja punição e repressão violenta. Em uma possível ameaça externa e interna à soberania nacional defendo que é indispensável que o exército tenha armamento capaz de se defender e subjugar o adversário da população brasileira. Disso tudo, teremos uma família com crianças pequenas a salvo, uma idosa humilde com vida, um país organizado e uma soberania nacional. Do menor ao maior, a justa violência salva vidas e comunidades. Afirmar que nenhum bem resulta da violência está tão longe de ser verdade que me custa muito compreender as raízes dessa aversão. 

Esclareço, por fim, que não ignoro os casos de violência que são imorais, como as domésticas, escolares, trabalhistas e animal, que lamentavelmente sofrem abusos físicos e psicológicos. Ainda assim, não podemos tomar exceções por regra. O álcool, por exemplo, é muito útil à humanidade, não é justo que por conta dos viciados o álcool se torne essencialmente ruim e seja proibido. Da mesma forma a arma ou a violência é instrumento de defesa e proteção, não é justo que seja demonizada por conta de traficantes, assaltantes e tirânicos. 

Aliás, como essas violências imorais que citei seriam contidas se não pelo uso da violência de uma força maior? Se não houver uma pujante e ética violência para conter os abusadores e criminosos que silenciosamente fazem suas vítimas ficaremos a mercê de uma minoria sanguinária, aproveitadora e verdadeiramente cruel ou, da boa vontade desses déspotas do cotidiano em se converterem ao bem. Até lá, sofreremos nas mãos dos que se protegem na sombra do contraditório Direitos Humanos. Já havia dito o famoso jornalista e político brasileiro Carlos Lacerda que a  “impunidade gera a audácia dos maus.”, e não por outro motivo há impunidade se não por essa sentimentalização do pensamento sobre a violência na segurança pública. 

Um 2019 a todos com uma visão mais racional do cotidiano! 

Fernando Razente

Amante de História, atuante com comunicação e mídia, leitor voraz e escritor de artigos de opinião e matérias jornalísticas.


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