A vida e seus ciclos
É cada vez mais comum ver concursos públicos com uma concorrência altíssima. Cheguei a acompanhar concursos docentes que tinham quase oitocentas pessoas concorrendo por uma vaga, sendo que a maioria das pessoas tinha doutorado. Síntese: quase oitocentas pessoas altamente tituladas brigavam por um emprego. Foi-se o tempo que ter um título era sinônimo de segurança.
Em algumas ocasiões ouvi o seguinte comentário: “fulano de tal estudou tanto para nada, eu ganho mais do que ele”. Esta trágica mentalidade em tudo nega a ideia de “estude para ser alguém na vida”. Aliás, o que é “ser alguém na vida?” É ser identificado por uma profissão, ou ter mais condições econômicas, ou alguma outra ideia? Tudo é possível, pois uma situação não nega a outra.
Estou entre os poucos das minhas turmas de História e Pedagogia que trabalha na área. A maioria tomou outros rumos: produtor de eventos, fotógrafo, vendedor, advogado, trabalha em escritório. Chego a imaginar a seguinte situação: será que um dia as pessoas deixarão de correr atrás de um diploma porque não verão vantagens nele? Posso dizer que ainda faço parte de uma geração fortemente iluminista e moderna, que vê o conhecimento como poder e que é essencial o estudo formal, porém, será que um dia tais ideais realmente se desfarão e as pessoas pouco se importarão com escolas e universidades?
Para ser o mais didático possível, pode ser que a vida siga uma espécie de círculo, onde o topo (para efeito simbólico) é representado pela alta oportunidade de estudos, mas, como a vida é um círculo, os títulos começam a perder a força até um ponto em que se tornam uma exceção. É no momento em que poucas pessoas têm títulos que estes tornam a ter certo valor de garantia novamente.
Que eu não seja visto de forma alguma como autoritário e avesso à democratização dos saberes, mas o que estou a fazer é um exercício intelectual especulativo que vê que nos muitos títulos também há problemas. Ou não há problemas? Deixemos em aberto tais inquietações.