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A serenidade de ser e a nossa atualidade


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 27/11/2023
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Quando trago para esta nova exposição de ideias, a questão da serenidade e a nossa atualidade, encontra-se inserida no âmbito da discussão filosófica, ao longo de toda uma tradição que busca refletir o modo de ser sereno no mundo. Também podemos encontra-la em determinadas narrativas mitológicas e na estrutura de romances da literatura universal em que o Ser que somos, a ela aspira sempre, mesmo diante das situações consideradas mais difíceis, algo que não falta em nossa atualidade tão tumultuada.  Não podemos esquecer a presença desta temática na dimensão religiosa, onde buscamos a serenidade em práticas e rituais que nos permitam asserenar.

Indubitavelmente, raramente a visitamos ou mesmo somos visitados pela serenidade, pois na maior parte do tempo, em nossa atualidade tão agitada, não conseguimos busca-la ou fazemos de modo apenas artificial. Afinal, podemos admirá-la e deseja-la, mas na condição de ser homens inquietos, nos acomodamos e mantemo-nos. Segundo o filósofo brasileiro Herculano Pires: “Como não a conhecemos intimamente, sua essência nos escapa, e muitas vezes somente a compreendemos na capacidade do ser em permanecer tranquilo em meio às tempestades da vida” (PIRES, 2008, p. 7). Por sinal, o que não falta são tempestades em nossa atualidade.

Porém, como poderíamos de fato, em nosso modo de Ser ou existir humano, sermos serenos em nosso mundo atual, já que nos encontramos sempre assolados por conflitos existenciais e na maioria das vezes, preocupados com as coisas e questões mundanas, nos fechando em nosso egocentrismo, onde assim a despercebemos e deixamos de lado, a busca por nossa serenidade. Não podemos negar, que o que encontramos é exatamente o contrário da serenidade, que se expressa na inquietação, em uma atualidade marcada ainda por guerras, conflitos, e outras situações de dificuldade extrema, em um momento conturbado de nossa existência humana. Sendo assim, é na última instância que o ser aí se angustia pelo simples fato de estar no mundo. A nossa existência enquanto tal se desenvolve de forma angustiante, de modo que o mundo se torna para nós sem relevância, pois não encontramos a serenidade em nenhum lugar, levando o homem a um modo de ser de inquietude.

Ora! Talvez seja importante partir da noção de que a serenidade não se identifica com as coisas no mundo, muito pelo contrário, ela se identifica com si mesma, não se constituindo como algo meramente hipotético, mas profundamente real e captável, sendo seu principal dilema e desafio, o fato de a desconhecermos, ou como observa Herculano, talvez o nosso entendimento a atinja apenas como uma “forma de equilíbrio” (PIRES, 2008, p.29). Herculano Pires escolhe usar o termo forma de equilíbrio para caracterizar de maneira mais adequada “o significado da essência da serenidade das coisas” (PIRES, 2008, p. 30). Desta forma, para Pires a serenidade aproxima-se de uma forma de equilíbrio e não necessariamente o equilíbrio em si. Observe-se que até mesmo a tempestade é serena em sua fúria, pois o aparente tormento e a violência que dela decorre, apresenta uma forma de equilíbrio para ajustar as condições do tempo. Citando Herculano: “A vida serena não é, pois, a serenidade plena, mas um constante equilíbrio entre serenidade e inquietude, às vezes mesclada pela angústia do equívoco.” (PIRES,2008, p.139)

Sendo assim, deve-se levar em conta que a busca pela serenidade não é uma evasão da realidade e muito menos, deve ser vista como um escapismo do homem ante os grandes problemas existenciais, políticos e sociais presentes em nossa atualidade. Ela representa uma atitude frente aos problemas comuns em nossa mundaneidade, visando a busca de equilíbrio para nós em nossa maneira de Ser e com certeza para com o nosso lidar com mundo.

Referência

PIRES, José Herculano. O SER e a Serenidade: Ensaio de ontologia interexistencial. São Paulo/SP: Ed. Paidéia, 2008.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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