O Brasil paraolímpico
Quando escrevo esta nova exposição de ideias, as paraolimpíadas na França, acontecem ativamente e a delegação paraolímpica brasileira, encontra-se em pleno destaque, conquistando um grande número de medalhas, localizando-se atrás apenas da Grã-Bretanha e da China. Destaque-se os recordes em modalidades como a natação, realizados pela equipe brasileira. Neste aspecto, quando exponho este tema, objetivo refletir sobre um “Brasil” que desconhecemos ou simplesmente ignoramos, principalmente na dimensão esportiva, que se configura como expressão existencial dos nossos atletas paraolímpicos, tornando-se agora conhecidos, devido a superação atlética, física e mental nestas paraolimpíadas.
Quero destacar que a deficiência física, indubitavelmente promove classificações e hierarquizações, sociais, morais e profissionais. O deficiente físico, apesar de avanços em seus direitos e participações no âmbito social, continua a encontrar barreiras que os colocam à margem do corpo social. Na prática esportiva como no caso dos jogos paraolímpicos, uma sociedade como a nossa, encontra dificuldades de reconhecer “pessoas deficientes como atletas”. Algo até compreensível, pois a visão paradigmática e modelar de atleta, propaga a visão de vigor físico, perfeição corporal, superação de limites do corpo e saúde praticamente perfeita. O modelo tradicional dos corpos atléticos “saudáveis”, “perfeitos” e “bonitos”. Semelhante a noção de “estética grega”, expressa pelas modalidades olímpicas desde a época da Grécia Antiga.
Que estas paraolimpíadas de 2024, apresentando a delegação brasileira colecionando medalhas e superando limites inclusive relacionados com certo menosprezo e indiferença do corpo social e mesmo político de nossa estrutura nacional, permita reconhecer estes “atletas paraolímpicos” como seres-humanos passíveis de respeito, admiração, reconhecimento de seus direitos e que abra mais espaços, além de oportunidades e perspectivas para os “deficientes físicos”, quanto a práxis social em geral, sendo então reconhecidos como pessoas capazes e seres-humanos normais, embora apresentem limitações físicas, podendo exercer atividades e funções essenciais na estrutura social em campos normalmente abertos somente para os ditos “normais”. Vamos torcer para que conquistem mais medalhas e batam mais recordes mundiais em diferentes modalidades, mas penso que a conquista principal exemplificada pelos nossos atletas paraolímpicos será “o reconhecimento da humanidade dos deficientes físicos enquanto pessoas e não como corpos defeituosos, devendo ser colocados fora das relações sociais”
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com