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Antropoceno e as queimadas criminosas


Por: Rogério Luís da Rocha Seixas
Data: 23/09/2024
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Quando apresento o tema do Antropoceno e sua ligação com as queimadas criminosas, cada vez mais comuns em nosso país, como vem acontecendo aqui no Rio de Janeiro, para esta nova exposição de ideias, inicio destacando que o sentido do conceito de Antropoceno e sua relação com a Natureza, necessita ser tratada de modo reflexivamente crítico. Porém, o que vem a ser Antropoceno? Este conceito foi criado pelo biólogo Eugene Stoermer nos anos 80 e depois, popularizado pelo cientista Paul Crutzen, já no começo dos anos 2000. Antropoceno que traz o significado de uma era ou período histórico, marcado por alterações profundas e sistêmicas na natureza, fato que por consequência, influencia as condições climáticas do nosso planeta. Alterações introduzidas pelos seres humanos. Por nós seres humanos de forma intensa e agressiva, a tal ponto de se caracterizar o Antropoceno como sendo uma nova era geológica. Período histórico do Antropoceno, se assim quisermos, onde as atividades humanas começaram a ter um forte impacto global tanto no clima do planeta quanto no equilíbrio, funcionamento e sobrevivência dos ecossistemas naturais. Por este motivo, muitos o qualificam como o período histórico que pode marcar o fim da vida no planeta Terra.

Pode-se caracterizar a noção de Antropoceno também historicamente, a partir do progresso tecnológico, que se acelerou depois da assim denominada “Primeira Revolução Industrial”. Tem-se também um crescimento explosivo da população mundial, além de uma excessiva multiplicação da produção e do consumo. Partindo deste ponto, denomina-se o Antropoceno como sendo o Capitaloceno, que surge enquanto uma crítica à noção de Antropoceno e a irresponsabilidade humana, com a saúde do planeta e a conservação da natureza. Capitaloceno que expressa a ação humana por suas relações políticas e econômicas de poder e desigualdade no contexto capitalista global.

Pode-se destacar que ao abordarmos a relação entre Antropoceno e Natureza, deve-se analisar criticamente a permanência do dito antropocentrismo ocidental e suas bases dicotômicas, estabelecendo a separação entre Natureza e humanidade. Antropocentrismo que constituiu uma dicotomia hierárquica, colocando-se o ser humano na condição de sujeito de conhecimento e senhor da Natureza. Afirma-se o homem moderno como ser racional e considerando-se assim externo à natureza, predicada como mera matéria.  Neste sentido, a natureza se tornou objeto de intervenção humana e passível de ser explorada, para satisfazer as necessidades humanas. Ao mesmo tempo, tal separação dicotômica, moldou e molda as relações sociais, culturais e econômicas atuais, causando conflitos ecológicos, experenciados em nosso tempo presente, que apresenta um quadro de crescente e danosa crise ambiental.

E as queimadas criminosas? Na condição de “senhores da natureza” e nos relacionando com ela, enquanto algo a ser apenas explorado e usado, as queimadas criminosas, representam a ação humana irresponsável, no sentido de não medir as consequências de suas atitudes destrutivas para a vida, como um todo no planeta, inclusive a vida humana. Comete-se assim um crime contra a vida em seu contexto geral, sem poupar a vida humana, quando se queima um ecossistema, para exploração econômica. As queimadas exemplificam, o homem ocidental e sua desmedida exploração econômica, como responsáveis por ultrapassar os limites biológicos, físicos e geográficos do planeta, destruindo as suas condições de vida.

Devemos então nos converter enquanto seres humanos, que compõe uma espécie genérica e que convive com todas as outras espécies, como sendo responsáveis pela vida natural, convivendo de modo mais equilibrado e respeitosos com essa e não a queimando. Evitando-se a costumeira relação utilitarista entre vida humana e vida natural. Nem precisaríamos de uma teoria ou um conceito para tal reflexão e atitude, sendo esta uma condição natural para nossa existência em comum com a Natureza. Como afirma Aílton Krenak: “Quem já ouviu a voz das montanhas, dos rios e das florestas, não precisa de uma teoria sobre isso: toda a teoria é um esforço de explicar para os cabeças-duras a realidade que eles não enxergam (KRENAK, 2020, p.12)

Referência

KRENAK, Aílton. A Vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

Rogério Luís da Rocha Seixas

Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com


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