A Banalização da Morte
Desculpe-me por trazer para esta exposição de ideias, um tema que em seu bojo, se apresenta como bastante desagradável para nossa existência: a morte. Obviamente o que nos assusta ou incomoda, não é a morte em si, pois ela faz parte de nossa existência, mas sim a ideia de morrer. O medo da nossa condição de finitude. Contudo, nesta ocasião proponho a seguinte reflexão: a banalização da morte. Não estou me referindo aqui ao ato de matar o outro por diversos motivos e não se incomodar com o ato de matar. Em não se deixar interpelar por questionamentos ou reflexões que possam colocar em xeque o porque se mata ou por qual motivo determinado indivíduo ou grupo, são passíveis de serem deliberadamente exterminados, qualificados inclusive como sendo seres matáveis. Gostaria de aludir à banalização da memória e morte do outro em meu entorno. A indiferença com um grau ou quadro de mortalidade que apenas ouço dizer e que não necessariamente me importa. Penso que enquanto escrevo este texto, o número de cem mil mortos pelo Covid-19 em nosso país, foi ultrapassado, devendo-se levar em conta as subnotificações. As comunidades que não são assistidas e deixadas de lado, onde o número de óbitos é desconhecido ou desimportante. Quando ouvimos sobre o número de óbitos, no geral e não quero dizer em todos, pois a generalização é uma burrice, fica-se apenas a noção de uma estatística. Não aludimos às pessoas que perderam suas vidas e também não nos identificamos com os seus entes queridos que experimentam a dor da perda. Têm-se a sensação da morte de outros que não conheço. Não sei se existiram ou não. Caso não tenhamos conhecido alguém que morreu, tal percepção torna-se mais intensa. Quero escapar da armadilha ideológica-partidária, ao tecer esta reflexão. Meu interesse visa uma reflexão mais voltada para o sentido ético, onde talvez devêssemos, enquanto sociedade no seu todo, incluindo tanto a responsabilidade dos governados quanto dos governantes, nos concentrar mais na preservação de vidas. Tentar aliar as necessidades econômicas e sociais que são importantes, com um sentimento e atitude de maior solidariedade e cuidado entre nós, desenvolvendo maior empatia com os que pranteiam seus mortos e não permitirmos que a memória de suas mortes seja banalizada, resumindo-se a uma mera estatística. Penso que todos devemos deixar nossos interesses individuais de lado para visar neste momento o cuidado do todo, para não contribuirmos com o aumento desta estatística mortal e diminuirmos a nossa atitude de banalização da morte não só a nossa mas também a do outro que faz parte de uma mesma sociedade que por este momento difícil se encontra.
Rogério Luís da Rocha Seixas
Rogério Luís da Rocha Seixas é Biólogo e Filósofo Docente em Filosofia, Direitos Humanos e Racismo Pesquisador do Grupo Bildung/IFPR e-mail: rogeriosrjb@gmail.com