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Licença para lecionar


Por: Dr. Felipe Figueira
Data: 02/03/2023
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Duas pós-graduandas, desejosas por lecionar na graduação, foram pedir à orientadora se isso seria possível. A professora, sobrecarregada e ciente da capacidade das moças, não pensou duas vezes: permitiu.

Cada aluna teria o direito de ministrar uma aula. Elas se organizaram da seguinte maneira: uma entraria no início do semestre e outra ao final. Tarefa dada, agora era começar a preparação. Era preciso preparação, pois elas trabalhariam com pessoas que não eram tão mais novas do que elas, traduzindo, que sabiam quase o mesmo que as futuras professoras.

Uma das alunas preparou uma lista enorme de material e enviou para a orientadora conferir. Esta, experiente, disse que era muito conteúdo e pediu para retirar boa parte. Obediente, a aluna retirou.

Chegou o dia da primeira aula. A aluna arrumou a mesa, ligou o notebook, apresentou-se para a turma e começou a falar, falar, falar. Sem ver o tempo passar, terminou a apresentação. Que horas seriam? Teria extrapolado o horário? Pelo contrário, ela falou tão depressa que a aula terminou muito antes do fim previsto. Era para terminar às três e dez, mas a aluna não tinha mais assunto às duas e dez. Para ganhar alguns minutos, começou a dizer:

- Calma aí, gente. A aula não acabou. Vamos revisar tudo e agora vocês vão me dizer o que aprenderam.

Duas e vinte e cinco. A revisão quase demorou mais do que a aula.

As duas pós-graduandas eram amigas, desde a graduação não se separavam. Ao contar a estranha experiência que teve, Jaqueline, a primeira a ministrar aula, disse:

- Leve mais material do que você está pensando. Na hora tudo é rápido demais. Vai por mim, não economize em conteúdo.

Amanda, a outra pós-graduanda, aprofundou-se em pesquisas. A aula teria que ser perfeita, até porque ela tinha os conselhos da amiga. Os dias se passaram e o dia da sua aula chegou. Ela tinha material para dar e vender.

A aula também começou uma e trinta. Após arrumar a mesa, ligar o computador, ela começou a falar. E falou, falou e falou até que, ao findar o que havia preparado, olhou para a hora no próprio notebook. Que horas seriam? Ela não fazia ideia, pois de tanto nervosismo não tinha sequer olhado nos olhos dos alunos. Se duvidar, é possível dizer até que ela não sabia para qual curso tinha ensinado.

Então apareceu o horário: duas e dez. De nada adiantaram tanta preparação e os conselhos da amiga, pois ela tinha terminado inclusive mais cedo. O consolo que ela espera ter, assim como Jaqueline, é que não tenha dito besteiras, ou que ninguém venha a rir dessa licença para lecionar.

Dr. Felipe Figueira

Felipe Figueira é doutor em Educação e pós-doutor em História. Professor de História e Pedagogia no Instituto Federal do Paraná (IFPR) Campus Paranavaí.


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